Racismo é uma vergonha


Arnaldo Niskier

Sempre participei com muito entusiasmo de todas as homenagens prestadas 
em nosso país ao acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco, autor de uma importante 
lei antirracismo. Para ele, a prática desse delito era crime inafiançável. E com toda razão, pois somos formados por uma tríplice mistura do branco europeu com o negro vindo da África e o índio nativo. Miscigenação que deu origem a um povo de 200 milhões de brasileiros, que em geral se orgulham da sua formação.
 
Vez por outra, figuras insanas colocam em xeque essa realidade. Estranha-se 
que um jogador brasileiro, de pele negra, seja ofendido na Rússia pela agressão verbal de torcedores doentes. Já se fala que se isso tiver continuidade, pode colocar em risco a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2018 naquele país. É a ameaça que faz a FIFA, de forma adequada e conforme é da sua obrigação.
 
O que parece ilógico é o registro desses fatos em nosso país. Temos dois 
casos recentes e lamentáveis sob todos os aspectos. Primeiro foi o jogador Tinga, do Cruzeiro, num jogo contra o Real Garcilaso do Peru.
 
Foi insistentemente chamado de “macaco”, além da torcida berrar que ele 
deveria jogar na seleção da África. Isso repetiu o que havia ocorrido com Zé Roberto, num jogo Grêmio x Internacional, em 2011, quando torcedores, na arquibancada, sempre que ele pegava na bola imitavam o jeito dos símios. Francamente, uma atitude desarrazoada e preconceituosa.
 
Todos admiramos a história do Rio Grande do Sul e a valentia do seu povo. 
O estado gaúcho não merece que, nos seus limites geográficos, estejam ocorrendo fatos profundamente lamentáveis, a que se soma a agressão a um árbitro, aliás dos mais competentes da atual safra de juízes da CBF. Trata-se de Márcio Chagas, ofendido pela torcida do Esportivo de Bento Gonçalves, com gritos de “macaco”, “volta pra África”, “ladrão” etc. Quando foi pegar o seu carro, no final do jogo, encontrou-o amassado e cheio de simbólicas bananas. Fiquei comovido ao ouvir a descrição do árbitro, em prantos, pela televisão. Este não é o nosso Brasil.
 
Ainda se pode registrar o caso do Arouca, excelente volante do Santos, que já
serviu à seleção brasileira, ofendido com palavras agressivas na cidade paulista de Mogi Mirim. Ele se defendeu: “Como esquecer que algumas das páginas mais bonitas da nossa seleção foram escritas por Leônidas Silva, Pelé e Romário?” Parece que os idiotas que tomam essas atitudes não raciocinam. Por isso, deveriam ser presos, como manda a lei, e ser banidos dos nossos estádios. E/ou interditar os locais em que isso acontece. Com rigor e urgência.
 
Nos lares e nas escolas é que os jovens devem ser educados para reconhecer 
que todos somos irmãos. Quando se trata de futebol, respeitar o adversário é uma regra das mais simples. Por que chamá-los de “gringos” só porque têm a pele muito branca? Isso também é preconceito e merece uma correção. Por que a CBF não produz uma cartilha de bons modos, com vistas à Copa do Mundo?