Profissão docente
Arnaldo Niskier
Escreve-se muito ( e fala-se também) na necessidade de uma ampla revisão dos cursos de formação de professores, em nosso país. Nada mais natural. No Plano Nacional de Educação, para o período 2011-2020, há seguidas referências ao assunto, mas não se afirma claramente de onde sairão os recursos para pagar melhor aos mestres e especialistas.
A proposta do professor Fredric Litto, criador da Escola do Futuro da USP, é muito clara: “Como superar os desafios numa sociedade conectada?” Para aquecer a discussão, no Centro de Convenções Sul América, no Rio, ele propôs que falássemos sobre a profissão de docente.
Começou, ele mesmo, identificando os tipos de professores existentes no sistema brasileiro: “Tem os do ensino fundamental, que amam os seus alunos; há os do ensino médio, que amam os livros didáticos; e tem os do ensino superior, que amam a si próprios...” Com sua reconhecida ironia, quis mostrar aos 400 participantes do 9º FUP como é difícil introjetar mudanças, sobretudo na cabeça dos mestres que se ocupam do ensino de 3º grau, em nosso país.
Do debate, que foi muito proveitoso, participou também o professor Carlos Bielschovsky, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que acaba de deixar o MEC, em que dirigiu por quatro anos a Secretaria de Educação à Distância, com indiscutível sucesso. Hoje, o Brasil tem mais de 1 milhão de estudantes, nessa importante modalidade de ensino.
Abordei a questão do salário dos professores. Como incentivar a sua atividade com ganhos tão pobres? Depois, foi a vez da formação e do aperfeiçoamento dos mestres, em que a EAD pode ter um papel essencial. Quando presidi a Câmara de Ensino Superior do Conselho Federal de Educação, no período 89/92, em Brasília, recebi a recomendação do então presidente do órgão normativo do MEC, Fernando Gay da Fonseca, para que me dedicasse à revisão dos cursos de formação de professores, especialmente no nível superior. Apesar das reiteradas tentativas, com sucessivas reuniões nacionais, foi impossível avançar na matéria, dadas as incríveis divergências entre os diretores das escolas envolvidas. Ninguém se entendia. Tudo ficou na mesma, depois de três anos de ingentes esforços, todos baldados.
Abordou-se também a questão da falta de maior reflexão por parte dos nossos alunos, muitos dos quais chegam ao quarto ano do ensino fundamental sem dominar nem mesmo a escrita, quanto mais o raciocínio. Nisso, a promoção automática provocou grande estrago (irreparável). É essencial que as nossas escolas superiores, onde são formados os mestres do ensino médio, se abram para a importância de ensinar a pensar, como faz a Universidade de Estocolmo (Suécia), com absoluta prioridade. Aliás, o seu reitor nos disse que ela se dedica com primazia a três grandes vertentes: a formação de professores, cientistas e pensadores. E aqui?
Encastelados em suas redomas, os professores não são cobrados quanto a essas responsabilidades. Não saímos da mesmice pedagógica profundamente perniciosa.
A Unesco defendeu ardorosamente a tese da “aprendizagem para toda a vida”. Isso só não basta: é preciso verticalizar o conhecimento, ou seja, alcançar o ideal da “aprendizagem profunda”.