A preparação para novos tempos
Arnaldo Niskier
É sabido que durante os primeiros séculos de vida, o nosso país tinha características coloniais, impostas pelo domínio de Portugal. A partir de 1808, com a vinda de D.João VI e sua corte, vivemos o princípio da evolução cultural, com obras como a Biblioteca Nacional, o Observatório Nacional, a Academia de Guardas-Marinhas e tantas outras instituições que foram fundamentais para o deslanche do nosso desenvolvimento.
Nada disso poderia ter acontecido sem a primazia do conceito de alta gestão. Como hoje se cobra inclusive dos jovens administradores brasileiros, que vivem não mais a realidade de um país autoritário e totalmente injusto. O que temos é uma democracia de massa, com forte presença (inusitada) da classe média. Já são mais de 30 milhões de brasileiros que subiram de categoria, para a emergente sociedade de consumo. Com inovações semânticas, como as palavras globalização, sustentabilidade, profissionalização, novas mídias e, sem ser redundante, a prioritária educação ambiental.
É impossível alcançar resultados apreciáveis, no progresso brasileiro, se não tivermos, costurando tudo, uma educação de qualidade. Concordamos com a tese de que o problema não se resume a aumentar a aplicação do PIB em educação (para 10%, como querem muitos). Ou pagar melhor aos professores. Seria uma simplificação. Pagar melhor sempre trará resultados, sobretudo se a medida for acompanhada de outras providências essenciais, como formar adequadamente os mestres, oferecendo-lhes concomitantemente um treinamento moderno e marcado pela inovação.
É tudo o que não fazem os nossos cursos de formação de professores, envelhecidos por práticas ultrapassadas e desligadas da realidade mutante. A alta gestão começa numa escola renovada. Vejam o caso da qualificação profissional. Numa sociedade amplamente competitiva, todos reclamam da falta de mão de obra qualificada, em setores estratégicos, como foi o caso da siderurgia no Rio de Janeiro. Tivemos que importar 600 técnicos chineses. Isso é quase vergonhoso. E sofremos o risco de repetir o fenômeno no setor de petróleo e gás, básico para o crescimento do nosso Estado. É exatamente aí que defendemos a prática da alta gestão na educação, de olhos abertos para essa realidade.
Querem um exemplo? É o que nos dá o especialista Rafael Lucchesi, presidente do Senai: apenas 6,6 dos jovens brasileiros de 15 a 19 anos estão matriculados em escolas de ensino médio profissionalizante. É um percentual baixíssimo se compararmos com a média de 42% dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE), com sede na Europa.
Se precisamos formar 7,2 milhões de profissionais de nível técnico até 2015, segundo estimativas oficiais, estamos nos distanciando do melhor caminho, que nem sempre passa pelo ensino superior. No momento, o nosso ensino médio é catastrófico.