As lições da Olimpíada


Arnaldo Niskier

Foi-se a 31ª Olimpíada e o Rio de Janeiro, como era esperado, demonstrou sua imensa capacidade para organizar eventos de grande porte. O prefeito Eduardo Paes, elogiando o Boulevard Olímpico e as novas linhas de metrô, do BRT e do VLT, deu nota 10 aos Jogos Olímpicos. A cidade é mesmo maravilhosa e o povo extremamente sensível, como revelaram, agradecidos, mitos do esporte como Michael Phelps, Usain Bolt (como foi gostoso vê-lo no Maracanã torcendo pelo Brasil) e Simone Biles. Astros brasileiros deram o seu recado, como Neymar no futebol e Wallace no voleibol. Foram nossas estrelas de primeira grandeza.
 
Ganhamos um número inédito de medalhas (19), especialmente 7 de ouro. Ficamos em13o lugar entre 206 países. E a liderança em esportes inimagináveis, como vela e canoagem (onde Isaquias Queiroz obteve inéditas 3 medalhas). Nosso esporte revelou também significativa presença feminina.
 
Quais as lições que ficam disso tudo? Em primeiro lugar a necessidade de privilegiar o enlace educação-esporte. Temos 60 milhões de estudantes em nossas escolas. Já imaginaram esse imenso potencial, espalhado pelo país inteiro, sendo cuidado devidamente naquilo que chamamos de Educação Física?
 
Não basta ser disciplina obrigatória nos currículos escolares, especialmente na educação básica. Na prática, milhares de estabelecimentos de ensino transformaram essa obrigação em prosaicos campinhos de pelada. E o que dizer da precaríssima formação de professores? É preciso também construir equipamentos diversificados, importar outros, para atender às mais diversas regiões do país. Não se faz isso sem aplicar recursos financeiros adequados.
 
É assim que são obtidos bons resultados. Veja-se o exemplo de Cuba, que conhecemos pessoalmente. Deu atenção especial aos chamados esportes de alto desempenho e logo se viu, pelo número de medalhas conquistadas, apesar da sua pequena população, que esses cuidados produzem consequências excepcionais. Além de um marketing vitorioso.
 
Que somos competentes, ninguém mais duvida. Resultados no vôlei e no futebol de campo comprovam isso. Estamos vivendo um tempo de discussão em torno da chamada Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para alcançar bons resultados se possível a partir do ano próximo. A preocupação abrange matérias como História, Matemática e Língua Portuguesa, que são as mais afetadas pela reação dos nossos especialistas. Pode-se indagar onde fica a Educação Física, nesse processo.
 
É claro que ela pede cuidados especiais por parte do Ministério da Educação, especialmente dos membros do Conselho Nacional de Educação, que centralizam toda essa discussão. Aproveitar as lições da Olimpíada do Rio se torna uma obrigação inadiável das nossas autoridades, aproveitando a onda positiva que se criou. Não devemos nos restringir ao apoio inteligente das Forças Armadas ao esporte brasileiro, o que já trouxe bons resultados. É preciso ampliar essa missão e certamente todos sairemos ganhando.