Enfermagem é uma arte


Arnaldo Niskier

Com uma tradição que vem desde 1917, a Cruz Vermelha Brasileira, que é uma sociedade civil filantrópica, sem fins lucrativos, realiza notáveis serviços de Primeiros Socorros, Cuidador de Idosos, Imobilizações Ortopédicas, Berçarista e Atendimento Pré-Hospitalar. Acaba de formar uma turma de 44 técnicos de Enfermagem, na sua escola no Rio de Janeiro, para reforçar de modo competente atividades como as campanhas em desastres naturais, muito comuns no verão que traz chuvas impiedosas e provoca grandes tragédias.
 
Fomos convidados para paraninfo. No auditório repleto da Praça da Cruz Vermelha nº 10, depois de ouvir do diretor da escola, Luiz Carlos dos Santos, que “enfermagem é uma arte”, no que concordamos plenamente, dissemos algumas palavras de estímulo e respeito aos novos afilhados. Jamais poderíamos supor que, citando versos presumíveis de Fernando Pessoa, arrancaríamos lágrimas de algumas formandas, o que nos deixou também emocionados. Ao receber o poema do amigo António Valdemar, da Academia das Ciências de Lisboa, hoje sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, entendemos que era cabível repeti-lo pausadamente: “Um dia, a maioria de nós irá separar-se/ Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora/ Das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos/ Dos tantos risos e momentos que partilhamos.”
 
E mais adiante: “Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas de fins-de-semana, dos finais de ano, enfim.... do companheirismo vivido/ Vamo-nos perder no tempo.../ Um dia, os nossos filhos verão nossas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas?/ Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!/ A saudade vai apertar bem dentro do peito.”
 
Mas o segredo está – dizemos nós – em manter acesa essa amizade aqui forjada e viver, sem distanciamentos definitivos, a atividade profissional. Continuar, se possível, a estudar para galgar outras posições, partindo do princípio de que a aprendizagem é para toda a vida.
 
Adquirir a consciência da responsabilidade social de cada um dos formandos, vivendo num país que trata a saúde – como a educação – de forma precária. Tanto que precisa importar profissionais de outros países, em várias áreas de conhecimento, quando o certo seria estimular, de todas as maneiras, a formação e o emprego dos jovens brasileiros, muitos dos quais não chegam à escola ou abandonam os seus cursos no meio do percurso. Veja-se a vergonha em que se transformou o nosso ensino médio para ter a convicção de que esse raciocínio está correto.
 
O objetivo da Cruz Vermelha é a difusão do direito internacional humanitário. Ela atua para minorar os efeitos de guerras indesejáveis ou o impacto de desastres naturais, doenças e epidemias, tendo compromissos evidentes com a ação comunitária. Por isso tudo é que se vê com entusiasmo a formatura de mais uma turma de técnicos a serviço do nosso país.