A valorização do patrimônio


Arnaldo Niskier

 

É bastante criativo o anúncio que tem saído na televisão a propósito das obras de remodelação do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, uma das principais e mais tradicionais casas de espetáculos do país. Em meio a operários, sacos de cimento e pintores, surgem artistas dos corpos estáveis, cantando e dançando, para anunciar que em breve o TM estará apresentando a sua alentada e sempre esperada programação de música, ballet e ópera.
 
O notável disso tudo é que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) colabora com recursos financeiros, tornando-se assim patrono de um trabalho de preservação do nosso patrimônio histórico e artístico. Aliás, tem feito o mesmo na Academia Brasileira de Letras, cujo Petit Trianon, herdado do governo francês em 1922, teve restabelecidas as cores originais do seu salão nobre, para alegria dos seus acadêmicos e frequentadores.
 
Acompanhamos a visita feita às obras pelo economista Luciano Coutinho, presidente do BNDES, ele próprio um homem de cultura, formado na Unicamp, e com uma alentada folha de serviços prestados à vida brasileira. Ao lado de Cícero Sandroni, demonstrou um grande entusiasmo e surgiram muitas outras sugestões, na linha da conservação do precioso acervo da Casa de Machado de Assis, que tem valiosas primeiras edições de livros famosos.
 
Por que esse registro? Um banco que ganhou força quando se tornou também “social”, não poderia agir de outra forma. Tanto é verdade que criou também o Programa de Melhoria do Ensino das Instituições de Educação Superior (IES). Serão concedidos prazos maiores de financiamento e juros inferiores aos praticados no mercado, mas com um fator condicional colocado em boa hora: é preciso que a instituição demonstre um bom desempenho acadêmico. Temos quase 6 milhões de universitários, é certo que poderíamos ter o dobro desse número, sobretudo diante das extraordinárias inovações que estão ocorrendo (ex: Petróleo e Gás), mas é essencial que sejam valorizados os bons projetos pedagógicos, o que ficará a cargo do Ministério da Educação avaliar.
 
Outro aspecto importante – e que deverá valer também para os investimentos em cultura, sejam ou não relativos à Lei Rouanet – é a performance da instituição. Ela deverá, seja uma Faculdade ou um Teatro, passar por permanentes avaliações, para assegurar que não haja desvios, na implementação dos projetos apresentados. Começar bem e depois relaxar não faz sentido.
 
Se o banco vai investir cerca de 1 bilhão de reais somente no Programa IES, é justo que haja uma consequente garantia de aperfeiçoamento da qualidade do ensino, mesmo que a instituição, como pré-requisito, já tenha pelo menos 60% dos seus cursos reconhecidos pelo MEC, além de um mínimo de nota 3 no Índice Geral de Cursos de Graduação (IGC). São conceitos que fazem coro com o clamor da sociedade por um melhor ensino (grandes bibliotecas, bons laboratórios) e que agora ganham a chance de se tornar realidade.