Educação média, o grande desafio


Arnaldo Niskier

O Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) do MEC é o principal indicador da nossa educação.  Combina os resultados da Prova Brasil e do Saeb (aponta a qualidade no ensino de Língua Portuguesa e Matemática) com a taxa de aprovação ao longo das séries da educação básica.  O resultado disso tudo dá os números da realidade educacional brasileira.
 
Segundo os dados do ano passado, houve pequena melhora no início do fundamental, que não se mantém nas séries seguintes, e praticamente o ensino médio assinala estagnação na educação pública (média de 3,4).  Para o Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, a explicação é simples: há disciplinas em demasia no ensino médio(13), além de problemas até aqui insolúveis: a falta de tempo integral, o excesso de cursos noturnos, e as falhas estruturais provenientes das séries anteriores.  Ou seja, com essa qualidade o ensino brasileiro é um verdadeiro fracasso.
 
No Rio de Janeiro, registra-se uma alegria digna de nota: o sistema fluminense subiu 11 posições, em um ano, saindo do 26º lugar para chegar ao 15º.  É uma boa evolução, que o Secretário Wilson Risolia atribui ao planejamento estratégico da Secretaria de Educação, com avaliações periódicas que estão dando resultado,  ao lado do preenchimento das vagas de professores que se fez  com grande ênfase.
 
Há resultados que chamam a atenção.  O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco conquistou a maior nota do país do 5º ao 8º ano: 8,1.  É líder desde que foi criado o Ideb, em 1997.  Vale a pena conhecer pormenores do trabalho dessa escola: são só 411 alunos, classes com no máximo 30, professores com dedicação exclusiva (30% deles são doutores) e o projeto pedagógico se lastreia na pesquisa.  No currículo há música, teatro, dança e francês.  No vestibular, 100% dos alunos são aprovados.  Ora, já se vê que a argumentação do MEC é discutível: o problema não é o excesso de matérias, mas a insuficiência de horas de estudo.  Inovação e estímulo à leitura só mesmo em regime de tempo integral.  Vamos reduzir o número de matérias, agrupá-las como pretende o Conselho Nacional de Educação, mas qual será o resultado disso tudo se as horas de estudo continuarem precárias?
 
O que se pode também verificar, nos exames do Ideb, é o brutal abismo entre as escolas melhores e as piores, sejam públicas ou particulares.  Há escolas em Minas Gerais, Alagoas e Rio Grande do Norte que não passam de  1,7 de média(entre 0 e 10 pontos).  O que se ensina durante o ano todo nessas escolas, se é que podem ter esse nome?  Entre as cinco melhores do Brasil, nos anos iniciais do ensino fundamental, o  município do Rio tem duas escolas: o Ciep  Gláuber  Rocha, na Pavuna, com Ideb 8,5, e o Ciep Pablo Neruda, na Taquara, com 8,3.  Milagre? As duas diretoras disseram a uma só voz: “A gente trabalha e gosta de desafios.”  A Secretária Cláudia Costin tem toda razão de estar comemorando: “O Rio está em 3º lugar nos anos iniciais e em 5º nos anos finais.”  É fruto de muito trabalho.