Somos todos irmãos
Arnaldo Niskier
Mais uma vez, o Papa Francisco tem se referido ao fato de sermos todos irmãos. Por isso, devemos nos dar as mãos, sem preconceitos estéreis. Chama os judeus de “nossos irmãos mais velhos”.
Dirigi o setor cultural do Rio de Janeiro, como Secretário de Estado, durante quase sete anos. No Teatro Municipal, fomos parceiros de inesquecíveis espetáculos de música, balé e ópera, numa forma original de congraçamento. No dia 7 de abril deste ano, vamos assistir naquele Teatro, por iniciativa do Pontifício Conselho de Cultura, a um incrível show de fé, na compreensão de que “fé e razão são duas asas pelas quais o espírito humano se eleva na contemplação da verdade.”
Tudo isso dentro dos sagrados princípios da Ética, de que o mundo anda tão necessitado. Utilizar o nome de Deus para fins bélicos, positivamente, é uma aberração. Ao contrário, Ele só pode inspirar movimentos de paz e compreensão, como sempre pregou, desde os primórdios da civilização. É assim que se alcança uma existência plenamente humana, como se afirma no Documento de Aparecida.
“Todos somos filhos de Deus”. Quando fez essa declaração, no Vaticano, no dia 9 de janeiro de 2016, o Papa Francisco não pensou nos que acreditam na existência do Todo Poderoso e naqueles outros, felizmente uma minoria, que não têm essa crença. Pensou que todos somos iguais. É preciso refletir mais sobre essa realidade.
O Sumo Pontífice fez da compaixão e do perdão os temas centrais do seu ensinamento. É a principal mensagem do livro “O Nome de Deus é Misericórdia” (Editora Planeta), produzido em parceria com o vaticanista Andrea Tornielli, do diário italiano “La Stampa”. A obra proclama que Deus está sempre de braços abertos para perdoar, mesmo àqueles que tenham escorregado no pecado da corrupção. Eis um trecho: “Não nos transformamos de repente em corruptos; existe um longo caminho de declínio, para o qual se desliza e que não se identifica simplesmente com uma série de pecados”.
Vivemos o Ano Santo da Misericórdia, que vai até o dia 20 de novembro de 2016. O Papa, nesse trabalho, procura reproduzir o coração misericordioso de Deus. Preocupado com as inúmeras escravidões do terceiro milênio, o Sumo Pontífice procura combater o que chama de “globalização da indiferença” e defende “o amor de Deus por todas as criaturas”. Temos que ir ao encontro de todos aqueles que necessitam de compreensão, perdão e amor.
Por isso, enviará ao Brasil o cardeal Gianfrancesco Ravasi, responsável pelo Pontifício Conselho de Cultura, para ouvir o que temos a dizer e levar ao Vaticano o que os brasileiros pensam a respeito do assunto. O silêncio, seguramente, seria o maior dos males.
Aprendemos a conviver com a ideia de que constituímos um povo cordial. Dentro desse aspecto, temos uma maioria católica, que respeita os direitos das demais religiões, sejam elas evangélicas, luteranas ou judaicas. O que, simbolicamente, estreita essas relações é a crença na existência de um Deus único e todo-poderoso. Quem é agnóstico – e é claro que os há – pode não ter sido tocado por esse fogo sagrado da crença, mas deve ser igualmente respeitado. Quem sabe, muda de opinião?