Crônica: Educação e o Hibridismo - Professores

Arnaldo Niskier
Temos, no Brasil, cerca de três milhões de professores empregados (quase 500 mil no ensino superior), com a média salarial de 700 dólares na educação básica, o que é muito pouco.
Devemos valorizar a atuação dos professores e especialistas, não só aperfeiçoando os seus cursos de formação (providência urgente), como remunerando adequadamente esse serviço fundamental para os planos de crescimento do país. Será sempre difícil estimular os jovens da classe média a escolher o magistério com salários que são reconhecidamente dos mais baixos do mundo. A estimativa é de que, nos próximos 5/6 anos, possamos triplicar os números atuais. E, ainda, assim, estaremos abaixo de nações como as que foram batizadas de “desenvolvidas”.
 
 A formação de educadores, sejam ou não tecnólogos, passa hoje pela dimensão técnica, a dimensão humana, o contexto político-econômico e a parte de conhecimentos a serem transmitidos, tudo isso resumindo no que se pode chamar de aquisição de competência. 

Esta abrange necessariamente:
- o saber e o fazer;
- a teoria e a prática;
- os princípios e processos da tecnologia educacional.
 
O tecnólogo deve ser um novo tipo de educador, cuja capacidade de ação esteja baseada em processo científico.  Submeter o aluno simplesmente a uma exposição cultural não é suficiente.  Esse novo educador dever ter o domínio dos aspectos técnico-pedagógicos dos currículos e da metodologia.
 
Atualmente, há um consenso do que seja um tecnólogo educacional.  Enquanto um técnico dá ênfase à produção e usa métodos que não se adaptam à educação, o tecnólogo da educação precisa dispor de uma boa formação em humanidades, preparado para integrar novas técnicas a seu trabalho, em termos de atitudes, conhecimento dos meios de comunicação e suas possibilidades e ainda conhecimento dos objetivos didáticos.  Ele trabalha com as circunstâncias a partir de um diagnóstico de necessidades que precisam ser satisfeitas.
 
Pode tratar-se de um professor para ministrar educação não-formal em programas de extensão agrária, como no Brasil, por exemplo, em  zonas agricultáveis ainda não são totalmente aproveitadas devido à utilização de métodos obsoletos.  Ou ainda precisa-se de um planejador educacional capaz de usar a televisão para reforçar métodos modernos de educação fundamental.  Também pode ocorrer a necessidade de um profissional para utilização de jogos de simulação, no treinamento de administradores.
 
No Brasil, o termo “tecnólogo” parece estar destinado a egressos de cursos de Matemática Aplicada à Informática, Engenharia de Computadores, Comunicação e outros semelhantes, o que se constitui em uma concepção distorcida das possibilidades da tecnologia da educação. A multiplicidade de cursos relacionados com as áreas de Informática e Comunicação não resolve o problema dos nossos 14 milhões de analfabetos adultos nem as carências em outros setores.
Há ainda uma certa resistência,  nos cursos de Pedagogia, quanto à adoção de tecnologias educativas em seus currículos. Para uma educação transformadora à altura do Brasil do tempo presente, a didática tradicionalista nada mais tem a introduzir. Já para atender a um compromisso pedagógico mobilizador, a tecnologia educacional pode ser a alavanca impulsionadora de que precisamos.
 
As maiores resistências ao papel do tecnólogo educacional estão mais nas pessoas e instituições do que na tecnologia em si.  As empresas, por exemplo, adotam sem dificuldades a tecnologia sempre e quando lhes convém para aumentar a produtividade, a eficiência e, é claro, os lucros.
Nas escolas, o tecnólogo é visto como um usurpador das prerrogativas do professor.  Este pode rejeitar o tecnólogo por ignorância ou por medo de inovação.  Ou ainda, pode julgar-se um tecnólogo porque admite o uso do computador para ensinar o aluno a fazer contas.  Como é mais interessante mexer com teclas do que com a cabeça, os alunos gostam mais e o professor não tem necessidade de esforçar-se tanto.
Mas isso não ocorre somente no Brasil. Muitos países  que  usam amplamente a tecnologia educacional viram-se obrigados a partir do zero  diante da resistência  e obstrução das universidades tradicionais.  Como diz um anúncio:
“Afinal, já não se fazem mais casas como antigamente. Nem avião. Nem rádio, nem jornal. Nem mesmo bola de futebol.A tecnologia muda tudo, e faz tudo melhor.”