Zizinho foi um ídolo tipo o Pelé


Arnaldo Niskier

No dia 14 de setembro, o jogador Zizinho teria feito 100 anos. Antes de Pelé, foi um craque extraordinário, eleito ídolo da Copa do Mundo de 1950. Os jornalistas estrangeiros que se encontravam no Rio, para a cobertura da Copa Jules Rimet, deram a ele o título de “Leonardo da Vinci do futebol”, impressionados com a qualidade do seu futebol.

Além dos gols que fazia, Zizinho tinha uma característica especial: eram os seus passes de precisão cirúrgica. O craque Evaristo, que acompanhei desde os tempos de Madureira A.C., fez aos jornais uma declaração nesse sentido.

Há uma curiosidade na biografia de Zizinho: nascido em Niterói, era torcedor apaixonado do América F.C. Foi treinar em Campos Sales, pois tinha o sonho de jogar pelo clube da sua paixão, mas o destino fez das suas. Ele foi reprovado pelo treinador de então. Chateado, voltou-se para a Gávea e no Flamengo foi tratado como um príncipe. Fez explodir a sua carreira e se tornou uma das figuras estelares do futebol brasileiro.

Nas décadas de 40 e 50 Mestre Ziza fez uma carreira memorável, que pude acompanhar de perto como cronista da Manchete Esportiva. Tive esse privilégio. Ele ficou famoso com o seu drible “zigue-zague”. Ficou também com a fama de que não gostava das travas da chuteira. “Elas arranham a bola, que é o amor da minha vida.”

Mestre Ziza era um meia armador. Nessa posição tornou-se um patrimônio nacional, embora tenha jogado também como meia-atacante e centro-avante. Talvez tenha sido mesmo o maior jogador brasileiro de todos os tempos, no mesmo nível de Pelé, que era seu admirador. Na Copa de 50, nos treinamentos de Poços de Caldas e Araxá, quando participei da cobertura jornalística, estive com os dois e posso afiançar que Mestre Ziza era uma admiração incontornável de Pelé. Ouvi isso dele próprio, num treinamento a que tive acesso.

A transferência de Zizinho do Flamengo para o Bangu teve enorme repercussão. O mesmo se pode dizer quando ele foi para o São Paulo. Com a categoria de sempre, brilhou nos clubes por onde passou, com uma única frustração: queria ter jogado pelo América F.C., para satisfazer ao seu coração. E isso infelizmente não aconteceu.