A reinvenção do livro
Arnaldo Niskier
Antonio Campos, escritor e advogado pernambucano, pensa que a leitura de um livro não pode ser
(nem parecer) uma obrigação. Deve ser um ato de prazer ou de paixão, uma forma de felicidade.
Para ser coerente, criou a bem sucedida Fliporto, no Estado de Pernambuco, hoje parte integrante
do calendário de grandes eventos culturais do país.
Generoso com os amigos, entendeu que deveria repartir com eles as ideias da sua militância – e
surgiram daí diversas obras, uma dos quais aborda a reinvenção do livro (Editora Carpe Diem,
Recife, 2012). Para Antonio Campos, neto de Miguel Arraes e irmão de Eduardo Campos, o livro é
um elemento civilizador e gosta de repetir o que sobre isso falou o poeta gaúcho Mário Quintana:
“Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.”
Do seu amigo e grande intelectual pernambucano Edson Nery da Fonseca acolheu a lição de que “culto é quem sempre tem um livro ao alcance das mãos.”
Hoje, existe uma grande quantidade de plataformas impressas e digitais. Como na internet está a maior biblioteca do mundo, vivemos a era da reinvenção do livro ante o mundo digital – e sobre isso Antonio Campos falou na Universidade de Estocolmo (Suécia), em 2010, com grandes aplausos de uma concorrida plateia de estudantes e professores. Esse inesquecível encontro, de que participamos, resultou depois numa simpática visita à Academia Sueca.
Uma conversa com Antonio, no Rio ou em Recife, é sempre um prazer. Homem culto, acha incrível que o Google hoje traduza 52 línguas, mas se preocupa com um possível mas condenável controle de tanta informação:
“Precisamos buscar o equilíbrio entre preservar os direitos autorais e possibilitar um maior acesso do público às partes.” Essa é uma luta de grandes proporções que mobiliza os homens de cultura. Afinal, não vivemos apenas na era do conhecimento, da informação, mas da colaboração, atuando em rede.
Em estudo realizado na Academia Pernambucana de Letras, da qual é membro, Antonio Campos mostrou que o Google pretende digitalizar praticamente todos os 55 milhões de livros existentes no mundo, mesmo aqueles que se encontram fora do mercado. Assim se criaria uma notável biblioteca virtual, aberta a usuários de todas as partes.
A situação no Brasil está longe de ser a ideal, pois ainda não potencializou sequer os livros impressos, que têm circulação limitada em nossos Estados. O brasileiro lê menos de dois livros por ano, excluídos os didáticos, que são fartamente distribuídos às escolas públicas pelo governo. É, convenhamos, um índice ainda muito baixo, para as nossas pretensões de grande potência, ainda mais que é sábido que cerca 100 milhões de habitantes jamais compraram sequer um livro. O autor examina essa problemática, na obra citada, sugerindo que se modifique essa realidade em espaço de tempo relativamente curto. Excelente ideia.