Eu só quero é ser feliz


Arnaldo Niskier

Ao analisar os sonhos da Geração Y (os nascidos entre 1980 e 1995) sentimos uma propensão a valorizar menos os cursos tradicionais oferecidos pelo mercado e muito mais a busca da felicidade. É o sinal dos tempos: a veia narcísica está mais presente do que nunca. Talvez aí resida a explicação do sucesso do rap produzido pela dupla Cidinho e Doca, “Eu só quero é ser feliz”, com a convicção do desejo de andar tranquilamente também na favela e a consciência de que o pobre tem o seu lugar na sociedade. A música retrata a realidade, daí o seu êxito nas paradas.
 
Segundo o IBGE, 55 milhões de jovens brasileiros têm idades entre 18 e 33 anos. Em sua aplaudida ação filantrópica, o CIEE abrigou mais do que 13 milhões deles, no seu primeiro cinquentenário, que agora se comemora, investindo numa das mais nobres formas de assistência social e desenvolvimento sustentável: a formação para o trabalho. Os seus dirigentes têm a plena convicção de que os jovens procuram os estágios pelo desejo de serem felizes, alcançando em geral o primeiro emprego da vida. São conhecidos como millenials, com características de superexposição, conectados a um mundo ligado por fibras ópticas e por um fenômeno que está sendo chamado de gameficação (valorização dos games ou jogos).
 
O Dicionário Oxford, de 2013, elegeu a palavra selfie como termo do ano, consagrando a mania corrente de tirar foto de si mesmo e enviar para as redes sociais. Não é uma forma de narcisismo? A gente faz uma palestra para alunos e/ou professores. Ao final, somos atacados por detentores de máquinas, com a frase indefectível: “Posso tirar uma foto ao seu lado?” E lá vai o selfie para a coleção dos interessados.
 
Não seria exagero afirmar que estamos vivendo o apogeu das redes sociais. Se a geração anterior (X) viveu a década perdida, os jovens de hoje podem se prevalecr de um período de ouro, que está só no começo. A medicina promete coisas incríveis, como um fígado artificial produzido no computador. Já imaginaram o que isso virá a representar?
 
Na busca pelo trabalho, a atual geração, que faz questão de ser feliz, não se incomoda de trocar de rumo, se isso for mais conveniente. Os jovens trocam de emprego mais frequentemente do que os mais velhos, que são conservadores, segundo o IPEA, que estima ser desejo dos millenials, em sua grande maioria (quase 70%), possuir o seu próprio negócio. Eles são individualistas, mas valorizam muito a lealdade e a colaboração.
 
O que se sabe também é que a Geração Y prioriza a qualidade de vida. Não é só completar um curso, para dar satisfação aos pais. Tem que ser algo que seja útil a si e ao país. Por isso, devemos nos preparar para um grande ciclo de transformações. A preferência por Medicina, Direito, Engenharia, Administração não há-de se perder em curto espaço de tempo, mas virão outras atividades igualmente importantes para os nativos digitais, que hoje são mais de 100 milhões de internautas (só no Brasil). Outro dado impressionante é a existência de 130 milhões de celulares, conectados aos quase 7 bilhões em uso no mundo. Já imaginaram a força da comunicação dessa gente? E do que serão capazes ao construir as redes sociais?
 
Em breve, além da Geração Y, estaremos em contato com a Geração Z, com os seus iPads, Androids, PS4 e outros artefatos que nascem quase diariamente da criatividade desses gênios da atualidade. Logo estaremos vivendo ainda mais o fascínio do mundo digital, se é que ele não será substituído por outro ainda mais espetacular. Só Deus sabe o que vem por aí.