Vamos tirar Camões do ostracismo
Arnaldo Niskier
Luís de Camões nasceu há cinco séculos. O grande poeta português não foi esquecido. A cada momento, a sabedoria popular repete que é preciso tirar Camões do ostraciscmo, uma prova do valor da sua obra imortal.
Sua poderosa imaginação ligou a história de Portugal à tradição greco-romana. Assim, o épico “Os Lusíadas” reflete sua vida atribulada, muito bem retratada por poetas como Almeida Garrett.
O trabalho cita “as armas e os barões assinalados” e foi concebido durante 12 anos e publicado em 1572 . Muitos o consideram racista, por causa de algumas alusões aos muçulmanos. Camões seria briguento, boêmio e não deixou de ser valente durante as conquistas lusitanas na Índia e na China, produzindo versos que registraram o fim de uma era que se rendeu ao Iluminismo.
É autor do famoso episódio da Inês de Castro, a histórica amante de D. Pedro I (1320-1367), que se tornou rainha depois de ter sido assassinada pelos inimigos do monarca (“agora é tarde, Inês é morta”). Tornou-se um clássico da nossa literatura. “E Pedro a amava, o jovem príncipe.”
O destino de Inês de Castro é uma miniatura da ressurreição de Portugal, muito bem expressa por Camões, que morreu em 10 de junho de 1580, pobre e isolado, depois de uma experiência frustrada na África, onde se auto-exilou.
Pode-se registrar, na sua obra,que fez a ponte entre o paganismo clássico, o Renascimento e o mundo judaico-cristão. “O que amas de verdade não te será arrancado”.
A sua figura não pode ser dissociada da perda de um olho, numa das batalhas em que se envolveu, o que não impediu de se tornar um símbolo da literatura universal. Narrou as aventuras dos navegadores portugueses e refletiu também sobre as glórias e as tragédias vividas por Portugal. Falou sobre mares nunca dantes navegados, exaltando a coragem do povo português. Fez críticas à tirania e à corrupção.
Camões é um exemplo da perseverança lusitana, tornando-se um ícone cultural de valor inestimável.