A notável RBG


Arnaldo Niskier

Com frequência possível, nesse tempo de pandemia, temos assistido a grandes filmes. Um deles, sem dúvida, foi “A Juíza”, que focaliza aspectos essenciais da vida de Ruth Bader Ginsburg, que fez história nos quadros da Suprema Corte dos Estados Unidos. De aparência frágil, mas uma incrível força moral, a juíza, de origem judaica, foi uma intransigente defensora dos direitos da mulher, inclusive nas questões relativas ao aborto.

Não se importava, desde que convencida, a ser voto discordante na Corte, o que aconteceu inúmeras vezes. Enfrentou desafios aparentemente perdidos, como foi o caso da permissão para que mulheres frequentassem a Academia Militar de Virginia, em mais de 100 anos só aberta aos homens. E ganhou direito à equidade quando uma mulher entrou para a Força Aérea e reivindicou salários iguais. Foi Ruth quem conseguiu a vitória, com os seus incríveis e certeiros pareceres. Contou sempre com o apoio do marido (Marty), com quem teve uma vida feliz por muitos anos. Ele bem humorado, ela circunspecta. Assim eles eram vistos nas seguidas óperas que frequentavam, e que ela amava intensamente.

Confirmando o que é sabido, não se forma uma cultura de repente. Isso costuma ser um longo processo, com a participação ativa das escolas desde os seus primeiros tempos. Foi o que aconteceu com a Dra. Ginsburg. Ela foi excelente aluna de Cornell e Harvard, destacando-se com a obtenção dos primeiros lugares. Sendo mulher, isso logo ficou evidente .

Sempre batalhou, especialmente na década de 70, contra os privilégios concedidos aos homens. Era uma condenável política de discriminação de gênero, na verdade inconcebível segundo os postulados constitucionais.

Ela nunca errou? Não teve, em vida, a pretensão de ser perfeita. Quando chamou o presidente Trump de “farsante”, depois pediu desculpas. Confessou que jamais deveria misturar suas funções na Corte com política. Reconheceu o erro. Foi indicada à Suprema Corte pelo presidente Clinton.

Com a sua morte, lamentada por toda a nação norte-americana, foi homenageada no Congresso. Foi a primeira vez que isso aconteceu com uma mulher. Ela fez por merecer, com a sua vitoriosa luta de afirmação da presença e dos direitos femininos.