A Finlândia é conhecida por algumas curiosidades, como, por exemplo, ser a terra dos mil lagos e ter como cidadão ilustre o Papai Noel. Dizem que a casa do Bom Velhinho fica na cidade de Rovaniemi, na Lapônia, no extremo norte do país. Também é famosa pelo fenômeno natural do sol da meia-noite, muito comum ao norte do Círculo Polar Ártico e ao sul do Círculo Polar Antártico, quando o rei do sistema solar é visível por 24 horas do dia, nas datas próximas ao solstício de verão. Mas é na educação que estão os maiores exemplos finlandeses para toda a humanidade.
Trata-se de um país relativamente recente, que amargou um longo período de domínio da Suécia (seis séculos), além de cem anos como grão-ducado do Império Russo, de quem tornou-se independente em 1917. Possui um altíssimo desenvolvimento humano: o ranking 2018 do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas) traz a Finlândia na 15ª posição, à frente de países como Nova Zelândia, Bélgica, Liechtenstein, Japão, Áustria, Israel, Coreia do Sul, França, Espanha, Itália e Emirados Árabes Unidos.
Abordando a questão ética, a Finlândia, com a população estimada em cinco milhões e meio de pessoas, é uma das nações mais transparentes do mundo. Ocupa a terceira colocação no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), elaborado pela organização global Transparência Internacional, que trabalha em conjunto com outras organizações internacionais, incluindo a ONU.
Tive a honra de ser o cônsul-geral honorário da Finlândia no Rio de Janeiro, de 1990 a 2004, quando conheci com detalhes a realidade educacional dessa nação que, preocupada com a preservação do planeta, reservou três quartos do território para a defesa da natureza. Lembro que, em 2000, numa visita em companhia do então ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, perguntamos a Olli-Pekka Heinonen, ministro dos Transportes e Comunicações da época, qual o motivo do alto grau de desenvolvimento do seu país, e a resposta foi enfática: “Porque cuidamos prioritariamente de três coisas: educação, educação e educação”.
Há muitos anos a Finlândia tem um dos melhores sistemas educacionais do mundo. A prova disso é o fato de estar sempre nos primeiros lugares do PISA (Programme for International Student Assessment - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que define o ranking a partir da análise dos conhecimentos dos estudantes em leitura, matemática e ciências. O país se destaca por uma educação transformadora, com tempo livre, em que são desenvolvidos programas de interesse dos próprios alunos. Existe uma preocupação nos currículos com as chamadas competências transversais na instrução, o que leva o aprendizado a ser baseado em projetos do tipo “aprender a aprender”, competência cultural e interação. Com um detalhe que faz a diferença: os pais escolhem os métodos que as escolas devem empregar durante o ano letivo.
Os professores estão preparando os seus alunos para o Século XXI, realçando a importância de viver em sociedades cada vez mais multiculturais. Eles são capazes de interpretar o mundo digital de hoje, já que o ensino na Finlândia é todo informatizado. O resultado observado é a formação dos melhores alunos do mundo, segundo avaliação de especialistas. E para que não haja retrocesso nessa caminhada rumo ao desenvolvimento, as políticas de educação estão intimamente ligadas às políticas sociais, o que garante oportunidades e condições iguais para todas as crianças, pobres ou ricas. Ou seja: filhos de empresários e filhos de operários estudam na mesma escola.