Leon Tolstói é certamente um dos maiores escritores russos de todos os tempos. Sua obra-prima, “Guerra e Paz”, com 1.500 páginas, foi escrita entre 1863 e 1869. Como disse Romain Rolland, “é a mais vasta epopeia dos nossos tempos, uma Ilíada moderna.” Fez com muita competência, uma vasta pesquisa exaustiva sobre a invasão napoleônica em solo russo. E entremeia a sua narrativa com expressões francesas bem a propósito. Era o sonho de consumo da alta sociedade
Com o seu estilo bem pessoal, mergulhou na psicologia do desejo, do amor e da felicidade, abordando as grandes paixões humanas. O seu texto é uma porção da própria vida, como aparece nas descrições dos casamentos arranjados daquela época. Príncipes e princesas não estavam livres do bicho enfurecido do ciúme, embora se entregassem a casamentos movidos por interesses financeiros, como se pode revelar nesse pensamento, na página 239: “Veja, Pierre está rico e tenho que fazê-lo casar com minha filha e pedir-lhe emprestados os 40 mil rublos de que necessito. Assim, acompanhou Pierre em Moscou e conseguiu para ele o lugar de gentil-homem da Câmara, o que nesse tempo equivalia a conselheiro de Estado.”
Perfeito tradutor da alma humana, Tolstói acompanhou a gloriosa carreira do famoso general Kutusov, figura chave da guerra napoleônica. Tudo romanceado com muita classe, como a batalha de Austerlitz. O curioso é que Tolstói constrói uma narrativa novelesca, com a coragem de colocar falas na boca do general corso. O livro mostra que as guerras não são ganhas por heróis e generais, mas por pessoas comuns. Na história da civilização, a Rússia assinala a vitória sobre Napoleão e, dois séculos depois, a derrota de Hitler, que muitos atribuem ao inclemente “general inverno”. De toda forma, foi o que aconteceu.
Alexandre I foi conduzido pelo acaso da sua vida. Foi o pacificador da Europa e o primeiro a empregar as reformas liberais da sua pátria. Na placa comemorativa da guerra de 1812, resume a sua simplicidade: “Sou um homem como os outros, deixem-me viver como homem e cuidar da minha alma e de Deus.”
O livro não termina com a descrição da guerra e o triste incêndio de Moscou. Tolstói analisa de forma superior o comportamento de Napoleão e outros líderes, admitindo a liberdade para chegar às leis. Genial!