Academia é mesmo brasileira


Arnaldo Niskier

 

Durante muitos anos, a Academia Brasileira de Letras foi reconhecida como elite cultural, quase fechada a manifestações populares. Uma espécie de Country Club, reservado àqueles predestinados (40 de cada vez) eleitos por seus pares. Aos poucos, as suas portas foram se abrindo, primeiro com a eleição de Rachel de Queiroz, em 1976, a primeira mulher a envergar o vistoso fardão de modelo francês. Depois, com a expansão das suas atividades a todos os estados brasileiros, para justificar o nome da ABL. Não sem antes, na década de 80, iniciar o respeito à existência do computador, aparentemente um inimigo, com a criação, por Austregésilo de Athayde, com o nosso apoio técnico, do primeiro Banco de Dados, que deu origem ao atual e bem montado Centro de Memória.
 
Hoje, uma iniciativa dá consequência à “nacionalização” da Casa de Machado de Assis. Trata-se da Maratona Escolar, que primeiro homenageou a memória de Euclides da Cunha, para em 2010 concentrar-se na vida e obra de Joaquim Nabuco, a propósito do centenário da sua morte. São mobilizados estudantes de ensino médio das escolas de todo o país, com o objetivo de escrever textos de 25 linhas, não mais, devidamente orientados por professores entusiasmados.
 
Conforme orientação da Caixa Econômica Federal, que patrocina o evento, com o apoio institucional da Academia, a Maratona Escolar Joaquim Nabuco levou imortais a um elenco impressionante de cidades e escolas, para falar e debater sobre o nosso grande abolicionista. É uma forma de democratização cultural, como nunca houve. Veja-se pelo roteiro o que isso representa: Moacyr Scliar falou em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Pelotas; Cícero Sandroni na Secretaria de Estado de Educação de São Paulo; Evanildo Bechara em João Pessoa, Carpina (PE) e São Luís; Marcos Vilaça em Recife; Eduardo Portella e Nélida Piñon no Rio de Janeiro; Carlos Nejar em Vitória, Fortaleza, Belém, Manaus e Niterói; Antônio Carlos Secchin em Salvador, Florianópolis, Goiânia e Juiz de Fora; Lêdo Ivo em Brasília; Murilo Melo Filho em Natal, Maceió, Aracaju e Londrina; e estivemos em Belo Horizonte, Feira de Santana, Cuiabá e Nova Iguaçu.
 
Em todos esses lugares, com o apoio das respectivas Secretarias Estaduais de Educação, além das palestras e dos debates, houve farta distribuição de cartazes, folhetos e livros relativos ao autor selecionado pela Comissão Organizadora. Já imaginaram o que isso representa, em termos de incentivo à leitura e consequente conhecimento dos nossos mitos?
 
Dividida em duas partes, a Maratona Escolar Joaquim Nabuco apresentará dois grupos de vencedores, o primeiro dos quais já é conhecido: Ana Rita Ribeiro de Araújo (João Pessoa), Geysiane Barbosa Prado (Carpina, PE), Geraldo Pereira Neto (Rio de Janeiro), Jadher Assunção Cambuí Alves (Salvador) e Júlia Bortoloto de Albuquerque (São Paulo). Esses jovens e seus respectivos professores receberam como prêmios viagens a capitais por eles escolhidas, além de livros preciosos, como o Vocabulário Ortográfico e o Dicionário da Academia Brasileira de Letras. Suas redações foram consideradas primorosas, por um júri de acadêmicos.