Ensino domiciliar é um equívoco


Arnaldo Niskier

Um dos temas discutidos na última reunião da Academia Brasileira de Educação, sob a presidência do professor Carlos Alberto Serpa de Oliveira, foi  a implantação do  ensino domiciliar  no sistema brasileiro de educação. A conclusão dos acadêmicos é que se trata de um verdadeiro equívoco, que deve ser evitado, embora já existam 15 mil alunos comprometidos com esse sistema. Mas temos 48 milhões de estudantes de 4 a 17 anos nas escolas do nosso país.
 
Em pesquisa do Datafolha, conclui-se que 8 em cada 10 brasileiros demonstram rejeição ao ensino domiciliar. O curioso é que o governo federal insiste na ideia, embora se saiba que o ensino de Matemática seja dado de forma equivocada e sem respeito às individualidades dos alunos. Mas grupos religiosos e conservadores insistem no ensino domiciliar e é por isso que o MEC defendeu a iniciativa junto ao Congresso Nacional. Não considerou que esteja havendo rejeição ao tema.
 
Mesmo que se respeite a ideia de que é um direito dos pais escolher o tipo de educação a ser ministrado aos filhos, na busca da formação integral de crianças e adolescentes, elas precisam sem dúvida da convivência para alcançar outras visões, para além do ambiente simplesmente familiar. Esse modelo hoje é defendido por uma parcela mínima da população.
 
É certo que a escola ensina, mas é a família que educa. É  indefensável a inversão dos papéis e responsabilidades nesse processo. Concordamos que há muitos erros na educação tradicional, que sofre também pela ausência de materiais essenciais. Nas escolas hoje existentes as bibliotecas são precárias (faltam livros fundamentais) e os laboratórios não têm todos os recursos necessários, como se pode depreender quando o tema é a indispensável internet. A tecnologia  avança(estamos chegando ao 5G) e sabe-se que o atraso, na escola pública brasileira, é monumental. Nem por isso se pode garantir que essas falhas possam ser corrigidas, em curto prazo, com a transparência dessas responsabilidades para os pais aflitos. O pior de tudo é o cheiro de politicagem, nas medidas que estão sendo tomadas. É injustificável.