O que o futuro nos trará
Arnaldo Niskier
Aos cinco anos de idade, nascido na cidade mineira de São Lourenço, Heitor Gurgulino de Souza caiu de uma ponte e foi salvo por um surdo que a tudo assistia. Ganhou direito a uma vida exemplar como cidadão e educador e agora comemorou em Brasília, entre amigos e familiares, os seus primeiros 90 anos.
Gurgulino, sempre acompanhado da esposa Lílian, é presidente do Capítulo Brasileiro do Clube de Roma e presidente da Academia Mundial de Arte e Ciência (WAAS). Foi durante 10 anos reitor da Universidade das Nações Unidas, em Tóquio, e hoje é membro da Academia Brasileira de Educação. Com esses títulos é fácil supor os seus trabalhos em favor do futuro da humanidade, com a prioridade devida à educação.
Depois de lançar em 1972 o livro “Limites do Crescimento”, o Clube de Roma prestigiou a edição de “2052 – Uma previsão global para os próximos 40 anos’, do autor norueguês Jorgen Rangers, que tem um bem elaborado trabalho em língua portuguesa, já em nossas principais bibliotecas. Ele é um especialista em Estratégia Climática e esteve no Brasil, a convite do nosso Senado, para nos alertar sobre os cuidados que devemos ter com o nosso futuro.
Baseado em pesquisas muito bem estruturadas e em trabalhos de diversos economistas, cientistas e outros profissionais preocupados com o bem-estar da humanidade, o livro de Jorgen Rangers orienta sobre como lidar com questões importantes no futuro, ou seja: as consequências das mudanças climáticas, o perigo da falta de comida e de energia, a elevação no nível das emissões de gases do efeito estufa que vem provocando o aumento das temperaturas globais etc.
Ao apontar as questões centrais, que podem levar, ao que autor chama de “revolução da sustentabilidade”, ele se debruça na análise de temas como sistema capitalista, crescimento econômico, democracia, harmonia geracional e clima. Mas faz um alerta: não podemos esperar que ocorra um progresso imediato. Afinal, as mudanças sistêmicas, que influenciam a vida da sociedade, precisam de um bom tempo para serem implantadas.
A força do livro “2052 – Uma previsão global para os próximos 40 anos” está, principalmente, nas previsões dos problemas mundiais, e nas possíveis soluções. Para Jorgen Rangers, a população tem sobrecarregado os recursos do planeta, provocando colapsos em alguns setores. Por isso, ele fala da necessidade de investimentos extras para o desenvolvimento de novos produtos, substituição de sistemas que já se apresentam esgotados, conserto de instalações danificadas e adaptações de infraestruturas para proteger contra futuros danos climáticos.
O autor do livro também discorre sobre a estagnação do consumo no mundo, chegando a admitir que haverá queda em alguns lugares. E sinaliza que, para prevenir aumento dos desastres naturais – ondas de calor, enchentes, aumento do nível do mar e ventos fortes -, o mundo terá que elevar, proporcionalmente, os investimentos globais, que poderiam chegar a 36% do PIB mundial. Será que os países estariam dispostos a assumir essa responsabilidade?
Numa análise fria, a previsão dos desdobramentos globais até 2052 é até sombria, mas não catastrófica. No final do livro, Jorgen Rangers demonstra o seu desejo de que é possível “criar um mundo muito melhor”. E apela para que os governantes façam sua parte, e com isso desmintam as suas previsões, tornando-as incorretas.