Há 30 anos – e sempre com enorme sucesso – realiza-se na cidade gaúcha de Passo Fundo a sua Jornada Literária. Nascida da dedicação e do entusiasmo da professora Tânia Rösing, até hoje presente no comando, o evento reuniu, na XIV versão, nada menos de 30 mil pessoas, entre professores e alunos, lotando as suas bem montadas e bem sucedidas lonas culturais, numa área de 12 mil metros quadrados.
Conferências, exposições, shows culturais (o dos irmãos Chico e Paulo Caruso foram muito aplaudidos) compuseram um quadro inédito de atrações, em que a maior delas foi o amor incontido pelo livro impresso, mostrado em sua exuberância por algumas das maiores editoras brasileiras.
E teve a Jornadinha Literária, dedicada somente a crianças. Onde já se viu alguém falar para 1.500 espectadores, que vieram de 32 municípios vizinhos? Foi o que aconteceu com a escritora Tânia Zagury, que nos contou, embevecida:
- Imagina só um pequenino estudante, depois da minha palestra, perguntar se eu escrevo com a razão ou a emoção? Ele estava motivadíssimo pelo trabalho da sua professora em classe.
Nada menos de oito membros da Academia Brasileira de Letras se deslocaram do Rio para Passo Fundo, prestigiando a Jornada Literária, que este ano teve como tema central “A leitura entre nós, redes, linguagens e mídias”. Foi muito curiosa a reação de alguns inscritos, como os que insistiam em apertar a mão do filólogo Evanildo Bechara: “Eu nunca pensei que um dia teria o prazer de tocar neste homem.” Houve muitas indagações sobre a implementação do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. A todos, com infinita paciência, Bechara esclareceu e deu exemplos práticos, cada um deles coroado com calorosos aplausos.
Nesta verdadeira sagração da palavra, cabe também uma referência especial à Fundação Universidade de Passo Fundo, hoje com cerca de 22 mil alunos (Passo Fundo virou uma cidade universitária). Visitei os seus diversos cursos, a partir de Veterinária e Agronomia, que foram os primeiros, passando pelos mais modernos. Uma surpresa extremamente agradável foi estar na bem equipada biblioteca, que tem mais de 142 mil livros devidamente cadastrados – e com uma inteligente seção infantil, dotada de todos os apetrechos necessários. A UFP tem também emissoras de rádio e televisão, de razoável alcance, para o treinamento dos alunos de Comunicação. Gostei muito do que vi, na valorização do binômio educação – cultura.
Como se afirmou na Apresentação, “a Jornada tem por princípio que a leitura literária é, em essência, a mais complexa e transformadora das tantas formas de ler. Houve uma singular experiência de alteridade, reflelindo sobre a arte em geral, sem esquecer a necessária inclusão da tecnologia.” O evento mostrou, na prática, como se pode viver e transformar a vida, graças à livre comunicação em geral. Como se diz em sua bonita canção “ refaça a conexão, crie outros nós entre nós.” E foi o que certamente aconteceu.