O Livro impresso sobreviverá
Arnaldo Niskier
Existe o convencimento de que o Brasil é o maior produtor mundial de livros didáticos, consumindo milhares de toneladas de papel, que é o insumo básico dessa indústria. Se fizermos um exercício futurológico, a primeira pergunta que se impõe é a seguinte: com o avanço científico e tecnológico, o que poderá mudar, nessa importante mídia pedagógica? Os livros, no formato tradicional, desaparecerão?
Não há esta certeza. Apenas se estima que um fato novo está alterando essa realidade. A existência do Kindle da Amazon, por exemplo, ao lado do e-reader da Sony, populariza a leitura eletrônica nos Estados Unidos, abrangendo 46 jornais e 35 revistas, além de milhares de livros.
O fenômeno está chegando ao Brasil. É comum o emprego de uma nova linguagem, para a qual devemos estar preparados: plataformas, on-line, internet, google, facebook, twitter, Iphones, Wi-AA (Administração Acadêmica sem Fio), etc. O curioso é que as crianças e os jovens absorvem essa realidade com grande rapidez, muito maior do que os adultos, cujo cérebro resiste mais a tantas inovações.
Um amigo chama a nossa atenção para outro aspecto: hoje, nas mochilas dos estudantes de ensino médio, são carregados 12 kg de livros didáticos de cada vez. É um peso considerável, que poderá trazer consequências danosas para a frágil coluna desses rapazes e moças. Com a introdução do Kindle, 2.500 páginas de livro eletrônico alcançam o peso de 380 gramas. Os primeiros aparelhos serão comercializados no Brasil, a partir do ano próximo, ao preço de 700 a 1.000 reais para o consumidor final. Uma grande economia, sem dúvida, e um conforto apreciável.
Há um pormenor que ainda não foi resolvido pela tecnologia internacional. O software inteligente, que nos emociona, serve às mil maravilhas para os livros, cujas páginas são em preto e branco. Vimos isso funcionando na Livraria Borders, em Nova Iorque, e foi um encantamento. Mas como abrir mão das fotos coloridas que em geral adornam os nossos livros didáticos? É por essas e outras que acreditamos, salvo novidades que ocorram, que haverá uma convivência pacífica, durante muitos anos, entre os livros tradicionais e os eletrônicos, estes em crescimento exponencial, é certo, com um suporte que não é excludente.
O especialista Antônio Campos tem uma ideia muito clara a respeito: “Os livros eletrônicos são uma tendência sem volta e em curva ascendente. Não adianta ir contra essa onda, mas é preciso saber surfar nela e tentar conciliar a cadeia produtiva do livro, os direitos autorais, e o mercado do mundo digital que cresce em progressão geométrica. É uma revolução, uma mudança de paradigmas, que está só começando.” Importa ter acesso ao livro de forma bem mais barata e cômoda (a questão do peso) e caminhar para a construção do país leitor com que sonhamos. Só não haverá concordância se a tecnologia oferecer produtos de menor qualidade estética, como é o caso da cor, que foi uma extraordinária conquista das artes gráficas e televisivas. Ainda somos de uma geração que acompanhou a mudança do velho preto e branco para as notáveis combinações das cores primárias (amarelo, azul, vermelho e preto). Ninguém vai querer retroagir, nessa matéria.