Sinal amarelo para a Matemática


Arnaldo Niskier

 A matemática foi feita pelo homem.  Portanto, é sujeita a ser alterada seguidamente por ele.  Mesmo trabalhando com a incerteza, a ciência dos números tem verdades inabaláveis, como é o caso da geometria euclidiana.  Hoje, ela é tão acreditada como há 300 anos a.C.
 
Não resta dúvida sobre a utilidade do seu aprendizado, mesmo para aqueles que não se destinam às carreiras técnicas.  Conhecer seus pormenores faz bem até quando o estudante deseja, por exemplo, escolher  um curso de filosofia.  Platão não foi filósofo e matemático? O fato foi ressaltado pelo jornalista e escritor Merval Pereira, em o Globo de 15/3/12.
 
Partimos dessas premissas para comentar o que se passa, no Brasil, em matéria de educação matemática.  É uma tragédia, classificada pelo secretário de educação de Campinas (SP) como “sinal amarelo”, prova de que estamos à beira de um desastre, se providências não forem tomadas.  Segundo estudos do MEC/IPEA, os últimos dados disponíveis mostram que no País há uma reprovação generalizada.  Somente 42,8% dos alunos concluem o 3º ano do ensino fundamental com os conhecimentos básicos da matemática, levando-se em conta os extremos que devem ser considerados: no Norte 28,3% e no Sul são 55,7%.  É uma flagrante disparidade, que prova o desequilíbrio existente.
 
Os dados referentes ao 9º ano do ensino fundamental nas redes públicas são bastante eloquentes: em apenas 35 cidades do  País mais da metade sabe matemática, ou  seja, os alunos teriam nota superior a 5.  O desconhecimento é uma realidade e isso se registra na  Prova Brasil, nos 5º  e 9º anos do fundamental, e pelo Saeb, nas mesmas séries, sem contar que os jovens alcançam a 3ª. série do ensino médio com as mesmas deficiências (apenas 11% dos que concluem têm aprendizado suficiente na matéria).
 
Esses elementos servem para comprovar o fracasso da nossa participação em conclaves internacionais, como é o caso do Pisa.  Há muito o que se fazer nas escolas, a partir mesmo dos seus clássicos problemas de infraestrutura, até chegar à precária formação dos professores, no que se refere à ministração de conteúdos.
 
O cérebro humano, com os seus reconhecidos 100 bilhões de neurônios, segundo pesquisas recentes, evoluiu para lidar com o mundo físico e se utiliza da linguagem matemática  para cumprir a sua finalidade, nas questões do pensamento.  Teorias matemáticas podem explicar os mistérios do universo, nem todos, é claro, mas uma boa parte deles.
 
 Vale ainda uma nota sobre o papel de lógica em todo esse processo.  São palavras de Jeff Raskin, cientista da computação, nos Estados Unidos: “A lógica humana nos foi trazida pelo mundo físico e é, portanto, concordante com ele.  A matemática deriva da lógica.  É  por isso que a matemática é concordante com o mundo físico.”  A ciência tem cerca de 4.000 anos de vida.  Quando é que vamos despertar para o valor disso tudo?