É preciso ampliar a Literatura
Arnaldo Niskier
A iniciativa foi da Deputada Maria do Rosário (PT/RS): a realização de uma audiência pública para debater a situação da leitura e do ensino de literatura na educação básica, particularmente no ensino médio. Assim, especialistas de diversos setores se reuniram no Anexo II da Câmara dos Deputados. Sob a inspiração da Comissão de Educação, com o apoio também da Dep. Margarida Salomão (PT/MG), foram apresentadas e discutidas sugestões por parte do escritor Luís Augusto Fischer, de Zoara Failla (Instituto Pró-Livro), de Germana Maria Araújo Sales (ABRALIC), de Adelaide
Ramos e Côrte (Conselho Federal de Biblioteconomia), de Volnei Canônica (Ministério da Cultura), de Ricardo Magalhães Cardozo (MEC) e do autor destas linhas, representante da Academia Brasileira de Letras. Tudo com base em texto preliminar, elaborado pela Dep. Maria do Rosário, em que ela afirma lamentar a redução do número de leitores no Brasil e o Enem tem importância crescente: “Estudos recentes apontam uma diminuição gradual das questões de literatura nos últimos anos (com exceção de 2012). E há pouca presença em história da literatura brasileira, assim como a concentração em determinados períodos históricos e movimentos literários.”
No momento que o Brasil discute uma Base Nacional Comum Curricular, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados decide promover debates sobre o tema, o que é bastante auspicioso.
O escritor gaúcho Luís Augusto Fischer condenou a concentração de questões em determinados autores e sugere aproveitar a discussão em torno da BNC para elaborar propostas de renovação. Além disso, propôs leituras renovadas no Enem.
Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro, mostrou que houve uma redução de 7milhões de leitores em cinco anos corridos. Por outro lado, as mulheres assumiram a liderança dos índices de leitura.
A especialista Germana Araújo Sales reclamou da redução do espaço da literatura no Enem e Volnei Canônica, do Ministério da Cultura, entende que o professor é o principal vetor de acesso ao livro. Pedimos a palavra para argumentar que no Japão essa responsabilidade também é dos pais: “Toda noite, o pai ou a mãe lê o capítulo de um livro para o filho, entronizando nele o gosto pela leitura.”
Ricardo Magalhães Cardozo, da Secretaria de Educação Básica do MEC, entende que a atual discussão sobre a BNC é uma excelente oportunidade para corrigir essas distorções. O mesmo podendo ser dito sobre o Sistema Nacional de Educação, que deve ser muito valorizado.
Há necessidade de maior entendimento com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacional (Inep), ao qual incumbe a montagem das questões do Enem. Não deve se deixar levar pelas divergências entre gramáticos e linguistas. Assim estará mais disponível para valorizar a literatura, como é o desejo de todos.
Fizemos questão de externar nossos pontos de vista. Primeiro revelando que nos falta uma clara definição sobre o que se entende por Política Nacional de Educação. Colocamos a Academia Brasileira de Letras à disposição dos interessados para transmitir a sua experiência sobre projetos de defesa da língua portuguesa e valorização da cultura nacional, conforme, aliás, consta do artigo 1o do seu pétreo Estatuto, assinado por Machado de Assis.