A importância de um bom começo


Arnaldo Niskier

Os dirigentes do Centro de Integração Empresa-Escola estão convencidos de que a inserção qualificada de adolescentes e jovens no mercado de trabalho depende de um bom desempenho das crianças a partir da alfabetização nas escolas. Isso foi muito debatido no seminário realizado, em São Paulo, com o patrocínio também da Fundação Roberto Marinho.
 
Nesse evento, a ministra Tereza Campello abordou com muita propriedade o acesso de adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade à aprendizagem profissional. Outros ministros também focalizaram o assunto, hoje em plena ordem do dia.
 
Não resta dúvida de que se deve dar prioridade aos cuidados com a aprendizagem das crianças sobretudo em Leitura e Escrita e, mais tarde, em Língua Portuguesa. Devemos fazer coro com afirmações do educador pernambucano Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna. São suas palavras: “Por ser a pedra angular, a alfabetização precisa merecer uma atenção especial. Pela primeira vez, estamos abordando de forma clara, não só por uma percepção ou achismo, essa relação. Ou resolvemos o problema da alfabetização, ou comprometemos todo o resto.”
 
Sabe-se que o MEC procura garantir a alfabetização na idade certa, mas isso não tem acontecido. Até porque depende de providências que se encontram em outros níveis decisórios, como é o caso da responsabilidade municipal pelas ações que se passam no ensino fundamental. A consequência é lamentável: cerca de 50% dos alunos do 5 o ano não têm aprendizado adequado. E mais: hoje, há 13 milhões de adultos analfabetos nas estatísticas nacionais, o que não deixa de ser uma vergonha. Somando-se a isso a certeza do grande número de despreparados oferecidos pelos analfabetos funcionais, pode-se inferir que o nosso quadro de recursos humanos, para enfrentar as exigências do crescimento, é ainda bastante precário.
 
Há um movimento saudável de aproveitamento do contraturno das escolas públicas para assegurar fluência em leitura e domínio da escrita, o que deve também contemplar o emprego necessário da Gramática na dosagem correta. A primeira versão dos estudos sobre a Base Nacional Comum Curricular reduzia a presença gramatical, num evidente erro de perspectiva. Os desentendimentos entre gramáticos e linguistas também não são positivos.
 
Depois de 10 milhões de contribuições do povo brasileiro a esse esforço de revisão curricular, temos a lamentar equívocos cometidos, como também aconteceu em outra matéria essencial: História do Brasil. Chega a ser ridículo que se tenha proposto o abandono de estudos como os relativos à Inconfidência Mineira, com a ridícula argumentação de que “não contam com personagens afrodescendentes”.
 
Com problemas estruturais dessa gravidade, corremos o risco de produzir um documento de baixo potencial. Se não forem estabelecidos objetivos claros para o aprendizado, certamente perderemos de goleada o nosso nível de competitividade com outras nações, que zelam pela qualidade do seu ensino.
 
Para que o Programa de Aprendizagem tenha resultados positivos, devemos investir na implantação de um sistema identificado com a modernidade e utilizando os recursos didáticos mais atrativos para esta clientela específica.