Ética, uma jóia rara


Arnaldo Niskier

 

A amiga Márcia Peltier pede minha opinião sobre o emprego (ou não) dos princípios da Ética, na vida brasileira. Primeiro penso em Sócrates, que viveu no período de 469 a 399 a.C. Refletiu sobre a luta entre o bem e o mal, ao dedicar-se a estudos sobre Ética e Conhecimento. Para ele, o vício é o resultado da ignorância do homem, enquanto o conhecimento leva à virtude. A sua clássica ironia o colocava, no começo de uma discussão, sempre na condição do “sei que nada sei”, expressão que hoje está em voga, na nossa política. Conhecendo o bem o homem em geral é levado a agir bem.
 
Platão (427-347 a.C.) dividiu os seus escritos em três fases: diálogos da juventude, da maturidade e da velhice. Para ele, o mundo ideal se alcança vem por intermédio da alma do homem. A virtude está intimamente ligada à sabedoria. Sugeria a prevalência da bondade, operando com a Ética Ideal que leva à prática do bem.
 
Aristóteles (384-322 a.C.) foi discípulo de Platão, em Atenas. Usando o método peripatético, que se ensina passeando, afirmava que o estudo sobre a Ética servia para que o indivíduo fosse virtuoso e bom. As virtudes morais estariam concentradas na coragem, moderação, prudência e justiça, enquanto as intelectuais abrangiam compreensão e sabedoria. Sua fórmula de felicidade: saúde, virtude, conhecimento, amizades e sorte. “Para bem viver, o homem deve bem pensar.”
 
Para o filósofo alemão Emmanuel Kant (1724-1804), dos primeiros a discutir Ética na modernidade, devemos nos tornar dignos da felicidade, tendo por fundamento o dever, o cumprimento da lei, e não mais as questões do bem e do mal. Somente se deve exigir dos outros aquilo que se exige de si mesmo. Roubar ou matar, positivamente, não são atividades éticas.
Vê-se, pois, que a palavra Ética não tem o mesmo sentido para todos. Analisar o aspecto da moralidade depende também de páthos (paixão) e éthos (costumes, de onde vem a palavra ética). Ética não é ciência. Nem uma joia rara, inalcançável.
 
Segundo Maquiavel (1469-1527), “é o bem geral, e não o interesse particular, que constitui a potência de um Estado e, sem dúvida, somente nas repúblicas vemos o bem público, somente aí nos determinamos a fazer o que é vantajoso para todos...” Em “O Príncipe”, pode-se ler esta preciosidade: “O tirano ocupa o último lugar na escala dos valores políticos, porque ocupa o último lugar na escala dos valores éticos. Ele é o objeto da ira popular, porque despreza o julgamento dos homens e perde-se na contemplação dos seus próprios atos.”
 
Assim, devemos viver a saudável relação entre a pluralidade ética e a liberdade, fatores que certamente conduzem a uma vida democrática. Estaremos assim no Brasil de hoje? É preciso acreditar, como diz Deleuze, mas não de forma passiva, mas acompanhando os rumos do processo, como integrantes interessados de uma realidade que nos cabe preservar e enriquecer.