Crônica: Educação e o Hibridismo - Conclusão
Arnaldo Niskier
A crise do coronavírus provocou uma série de mudanças em nosso sistema escolar. O confinamento necessário levou à valorização da modalidade de educação à distância, onde já tínhamos algumas experiências notáveis. Na verdade, no Brasil, já são quase 2 milhões de alunos estudando online, num atestado de que trata-se de uma iniciativa muito bem sucedida.
A pandemia não tem prazo fixo, por isso a EAD tem que trabalhar a plena carga, em todos os níveis, como ocorre em 157 países, segundo dados da Unesco, em que férias foram antecipadas, ao lado do emprego de plataformas digitais e do ensino à distância. As Secretarias de Educação foram instadas a preparar materiais adequados, obedecendo às lições de John Dewey do “aprender fazendo” (learning by doing).
Estamos vivendo uma época de ruptura necessária, a caminho das transformações sociais exigidas pelo povo brasileiro. A educação entrou nesse processo irreversível. Atinge a universalização do ensino fundamental e agora vive a explosão de demanda do ensino médio, com as duas vertentes propostas na nova lei: o ensino médio propedêutico e a formação profissional que conduz à existência de técnicos formados em nível intermediário, como há muito reclama o nosso desenvolvimento econômico e social.
Os gastos do Governo Federal com o programa (que preferimos chamar de “investimentos”) passaram de R$ 1,1 bilhão, em 2010, para R$ 13,7 bilhões em 2014. Mas o ritmo de crescimento do número de alunos nas universidades privadas acabou caindo para 2,5% ao ano.
Não podemos e não queremos ser caudatários de nações pós-industrializadas ou dos surpreendentes e assustadores “tigres asiáticos”. A educação farta, generosa e de qualidade é o melhor caminho a ser trilhado, pois a especialização traz como consequência imediata os ganhos de produtividade.
O mundo vive a dicotomia cruel: de um lado, altas tecnologias e, de outro, mão-de-obra de baixa qualificação (no caso da China, com salários miseráveis pagos aos trabalhadores, provocando uma competição perversa).
O simples adestramento de trabalhadores não parece o ideal. Ele resolve questões de momento, com oportunismo, não levando a soluções duradouras.
A globalização da economia, muito boa para certos países, já nos trouxe problemas internos graves, como os que ocorrem na indústria naval, a indústria de brinquedos e a indústria têxtil. Apresenta-se uma perspectiva favorável para o Brasil em produtos agropecuários e produtos minerais (minério de ferro, bauxita e manganês).
Devemos levar a nossa política de recursos humanos a considerar todos esses fatos, na diversificação necessária. Sob esse aspecto, o papel do novo ensino médio é estratégico e essencial, podendo elevar a qualidade dos nossos produtos, valorizando a mão-de-obra indispensável e distribuindo melhor e de forma bem mais equitativa a renda nacional.
Concluímos afirmando que tudo será possível - e em curto espaço de tempo – se mantiver o empenho das autoridades e se professores e especialistas, numa escola renovada e com os equipamentos necessários, estiverem formados e dispostos, com uma remuneração mais compatível, a vencer esse desafio nada quixotesco. Assim poderá prevalecer, para o bem do País, o que vimos denominando de novo humanismo tecnológico.
Não é hora de desânimo. Ao contrário, é preciso estar atento ao tamanho do desafio imposto pelo destino. A crise certamente não será eterna. Em algum momento ela passará e, como num revezamento, devemos estar preparados para a retomada Do crescimento. A EAD emergirá disso tudo como um mecanismo (ou modalidade) com o qual devemos nos acostumar, para utilizar como reforço escolar. Mais uma vez, recorremos ao talento do escritor israelense Yuval Noah Harari: “Devemos aprender com a história para enfrentar os obstáculos.”