Um país sem drogas


Arnaldo Niskier

Não se trata propriamente de uma geração perdida, mas a extensão do problema é altamente preocupante.  Referimo-nos ao uso crescente de drogas, por parte da nossa juventude, sem que se vislumbre solução a curto prazo.  Quem pensa que isso é coisa recente, engana-se.  No final da década de 70, na  direção  de um importante colégio da Zona Sul do Rio de Janeiro, fomos alertados para a saída, “por motivo de saúde”, de um jovem de 15 anos, toda quinta-feira.  Horas depois, ele era visto lépido e fagueiro à porta da escola, vendendo drogas aos seus colegas de ambos os sexos.  Naturalmente foi expulso, mas isso gerou um escândalo, pois os pais ficaram inconformados.  Não reconheciam a culpa do  filho.
 
Depois, na Secretaria de Estado de Educação, a  briga foi com  baleiros (falsos) que vendiam guloseimas e cigarros de maconha, na saída das escolas oficiais, com a complacência das autoridades policiais, alertadas para o fato.  Chegamos a afirmar que “era um  verdadeiro supermercado do vício”.
 
Hoje, tudo isso ganhou dimensões gigantescas, inclusive pela introdução, via fronteiras, de novas  formas de tóxicos, a mais letal das quais é o crack.  Produz efeitos imediatos e leva à morte em poucos meses.  A existência em São Paulo de uma desafiante cracolândia é um exemplo lamentável de leniência, pois emissoras de televisão e jornais denunciam o abuso quase diariamente, sem uma resposta adequada do Poder Público.  A desculpa, esfarrapada, é de que se trata de menores – “e não adianta prender, pois eles logo são soltos.”  Clínicas de recuperação de viciados são raríssimas.
 
Assim, não é de estranhar que haja uma evasão expressiva de jovens, no ensino médio, enquanto aumenta a população de menores de rua, que, para sustentar o vício, são levados a furtar e roubar com voluptuosidade.
 
Não são todos os que se encontram de braços cruzados.  A Secretaria Nacional de Políticas sobre drogas (Senad), hoje vinculada ao Ministério da Justiça, produziu uma série de publicações que estão sendo distribuídas nas nossas escolas: “Drogas: cartilha mudando comportamentos”,  “Drogas: cartilha para pais de adolescentes”, “Drogas: cartilha para educadores”, “Cartilha sobre maconha, cocaína e inalantes”, “Cartilha sobre tabaco”, “Drogas: cartilha para pais de crianças”, “Drogas psicotrópicas”, “Informações sobre álcool e outras drogas no trânsito”  etc.   É um primeiro e importante passo.
 
É preciso fazer mais.  Conhecemos a experiência do Estado de Israel com o delicado assunto. Quando o país recebeu milhares de imigrantes  da União Soviética para viver em seu território, viu-se às voltas com o uso  indiscriminado de drogas e bebidas, especialmente vodka, por parte de crianças até de  8 anos.  Precisou montar um grande esquema, hoje consagrado internacionalmente, pois foi adotado agora pelo México.  Trata-se do projeto “Cine Park”, criado por Ori Yardeni, multissensorial, com a exibição de belíssimos filmes em  3D para plateias de estudantes, com um  inteligente sistema de interatividade.  O aluno é chamado a dar a sua opinião.  Isso  se faz de forma volante, de escola para escola, com a orientação de professores, e uma avaliação altamente positiva.  Há grandes possibilidades de adotar essa metodologia no Brasil, envolvendo áreas  críticas, como a das drogas e também a educação ambiental.  Tomara que isso logo se viabilize.