Educação limpa


Arnaldo Niskier

 

 “O futuro da Terra depende das decisões tomadas agora pela humanidade.”
 
Com essas palavras, o dr. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, abriu os trabalhos da Rio+20, no deslumbrante pavilhão que levou o nome de Humanidade 2012, nas instalações do Forte de Copacabana. Um público numeroso prestigiou o painel de Educação, que contou com as palestras de Sílvio Meira, especialista em tecnologias educacionais, e Tião do Lixo, um extraordinário e aplaudido exemplo de superação, vivido no Aterro de Gramacho e hoje exercendo atividade de especialista em reciclagem.
 
Ao falar para a plateia de 500 professores do Sesi, tivemos o ensejo de cunhar uma expressão que foi muito apreciada: “Queremos uma educação limpa para os nossos jovens estudantes.” O que significa isso?
 
Chegamos a esse raciocínio a partir das grandes preocupações da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20): água, alimentos e energia. Desta se exige, para a salvaguarda do planeta, que seja cada vez mais limpa, prestigiando soluções como o etanol, a energia eólica e a energia solar, que não são poluentes.
 
Preocupados com as inovações nas sociedades sustentáveis, devemos exigir para todos um ensino de qualidade, que valorize o meio ambiente, atacando frontalmente os graves problemas da educação brasileira, entre os quais a baixa remuneração do magistério, a evasão do ensino médio, a ausência quase absoluta de tempo integral nas escolas, a existência de 14 milhões de adultos analfabetos e a permanência por longos anos de currículos ultrapassados em nossas escolas, além do envelhecimento das propostas dos nossos cursos de Pedagogia.
 
Uma educação limpa valoriza também as bibliotecas e os laboratórios. Na exposição da Rio+20, ao lado do pavilhão referido, havia outro, uma belíssima concepção da cenógrafa Bia Lessa, contendo cerca de 10 mil livros dispostos artisticamente e que foram selecionados por 120 personalidades brasileiras, que cederam obras para essa mostra. Uma forma de estímulo necessário.
 
Voltando à iniciativa do Sesi, da Firjan e da Fundação Roberto Marinho, em nossa pequena palestra sobre “Educação e Sustentabilidade”, acompanhada do lançamento de um livro com esse título, felicitamos o jornal O Globo pela campanha em defesa da preservação das toninhas (golfinhos) que estão desaparecendo da baía de Guanabara, em função das suas terríveis condições de poluição irrefreável. Com olímpica objetividade, dissemos que as toninhas são indispensáveis, “mas devemos nos preocupar também com os milhões de toninhos existentes em todo o território brasileiro, que não dispõem de escolas adequadas para o exercício da sua cidadania.” O nosso desejo é que, pela vontade política, que nos tem faltado, se possa dar à educação todo o apoio, inclusive financeiro, para que a atual geração cumpra a sua obrigação de forma competente.