A Ética é necessária
Arnaldo Niskier
No Pátio dos Encontros, realizado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, por iniciativa da Igreja Católica, abordamos o tema “Diálogo com o Mundo”. A ênfase foi dada na necessidade de valorizar a Ética em todos os nossos procedimentos.
Nos vários recantos do mundo, considerando as diversidades culturais,econômicas e religiosas, há a necessidade de muita ética para moralizar o conjunto da humanidade. O homem não sobreviverá enquanto existirem espaços éticos e morais opostos e antagônicos. E o papel das religiões para se evitar tais vazios é fundamental.
Há um crescente número de especialistas, nos campos da psicologia, da biologia evolutiva, da teologia, da moral, que robustecem a consciência de uma ética global, mediante estudos, análises históricas, diagnósticos sociopolíticos. Responsáveis por todos os setores da sociedade estão preocupados com a sobrevivência da
humanidade.
Fé e razão são conhecimentos distintos, explicáveis um pelo outro. E ainda que a fé seja colocada acima da razão, não pode haver desarmonia, se o Deus que infunde os mistérios da fé é também quem dota o homem com a luz da razão.
Dados da organização Population Reference Bureau, especializada em estudos demográficos, estimam que o número total da população do planeta atingiu cerca de
7,5 bilhões de pessoas. Por sua vez, o número de religiosos chega a 6,8 bilhões, segundo o “The future of World Religions Population Growth Projections”. A diferença é explicada pela existência de grande número de ateus e agnósticos. É certo que, hoje, todas as religiões ocidentais se acham radicalmente confrontadas com o problema da secularização, por uma sociedade mundana, o que não implica ausência de uma nova espiritualidade.
Cada ato individual tem uma influência coletiva. O otimismo nunca é uma meta, e, sim, uma atitude em relação à vida. Somos exemplos uns para os outros e é preciso assumir essa responsabilidade. Por isso, seja ao ler notícias no jornal ou ao vivenciar as chamadas microcorrupções do dia a dia, não podemos perder a capacidade de nos indignar, deixar que isso tudo passe como normal ou comum.
Indignar-se não será possível, porém, se não abrirmos os olhos para identificar quais as questões éticas envolvidas em cada caso. Sem dominá-las, continuaremos parados no mesmo lugar. O desconhecimento é parte da crise. Para o rabino Skorka, “a única defesa para que o povo não permita uma liderança nefasta é a educação.”
O Papa Francisco chamou os judeus de “irmãos maiores na fé”, repetindo as palavras de João Paulo II. Condenou todas as formas de antissemitismo e recordou os seis milhões de judeus mortos no Holocausto, citando nominalmente um sobrevivente de Auschwitz, quando visitou, há pouco, a Grande Sinagoga de Roma. Francisco
pronunciou em italiano a bênção sacerdotal: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti e te dê paz”.
Segundo a tradição judaica, um ato repetido três vezes se torna chazaká, um costume fixo. Esse é o sinal de uma nova era, um evento que irradia para todo o mundo uma mensagem benéfica e se opõe à invasão e à prepotência da violência religiosa.