Paixão pela Educação
Arnaldo Niskier
Ao mesmo tempo que reclama da nossa crônica desigualdade de renda, o ex-ministro Ernane Galvêas, que é um apaixonado por educação, faz-nos uma saudável provocação: “Por que temos tantos bons médicos, engenheiros, advogados e economistas, comparáveis aos melhores profissionais dos Estados Unidos e da Europa?” Ele arremata: “Se os níveis de educação no Brasil são tão precários, como isso se explica?”
As causas são complexas, Em primeiro lugar, comprovadamente, a escola pública padece de qualidade. Alunos brilhantes, nesse caso, são exceção. Nela se incluem as escolas técnicas federais, que realizam um notável esforço de qualificação, com resultados que se espraiam pelo nível superior.
No terceiro grau, o comportamento das escolas, entre as públicas e as particulares, lembra um pouco o desenho de um eletrocardiograma, com suas subidas e descidas. Há uma tendência a criticar o ensino particular, hoje responsável por 75% do alunado existente. Mas há escolas de elite, como as que pertencem à Fundação Getúlio Vargas, ombrando-se com as do Ibmec, as da PUC(em vários estados), o ITA, o IME e umas tantas outras. Então, não é de se estranhar que existam bons profissionais no mercado de trabalho, oriundos do terço médio superior desses alunos que compõem uma verdadeira elite intelectual.
O Brasil cresceu muito nas décadas de 50 e 70 (mais do que os asiáticos e o resto do mundo), consagrando o estilo JK de governar, de que temos saudosa memória. Voltou a crescer nos anos de 1993 a 1996 e de 2004 a 2008. O milagre, aparentemente incompreensível, tem uma explicação difícil porque ninguém garante que isso tenha acontecido com um alto nível de educação. Pode-se pensar o contrário: se tivéssemos uma boa educação, onde teria chegado o nosso desenvolvimento? As nações asiáticas acreditaram nesse fator fundamental – e aí se encontra uma causa plausível para o seu sucesso. Na Europa e na América do Norte não foi diferente.
Chega determinado momento em que o desenvolvimento econômico se torna insustentável, face aos baixos índices de educação, argumenta com muita propriedade Ernane Galvêas, que aproveita a nossa conversa para elogiar a contribuição do Senac e do Senai, na preparação técnica da mão de obra para o comércio, serviços, turismo e indústria. Pergunta: “As conhecidas deficiências do ensino tradicional propedêutico não teriam sido atenuadas pela expansão do ensino profissionalizante, que é um sucesso no Sistema S?”
O Brasil não está condenado ao atraso tecnológico e ao subdesenvolvimento. Hoje integra o Bric, ao lado de Rússia, Índia e China, com uma clara tendência ao crescimento social e econômico, contemplando segmentos cada vez mais amplos da sua população. Uma política oficial de geração de empregos pode, de modo inexorável, conduzir o país a resultados ainda mais expressivos.