O Francês como língua obrigatória


Arnaldo Niskier

 

É muito louvável o movimento cultural em torno da presença francesa no Brasil, que não tem sido pequena. Desde os primórdios, quando conquistadores sonharam com a existência da França Antártica, o que foi abortado pelos portugueses, apesar da adesão inicial dos primeiros moradores do Brasil (índios). A antropofagia era comum, naqueles tempos.
 
Depois, a “invasão” francesa foi muito mais forte. Cultivamos a sua cultura até meados da década de 40. Após a II Guerra Mundial, aos poucos, fomos cedendo espaço à influência norteamericana, apesar da latinidade que nos une ao país dos poetas Baudelaire e Paul Verlaine.
 
Isso não poderia justificar o abandono da língua francesa, com a qual temos infinita afinidade. Na década de 80, numa visita feita ao tradicional Liceu de Campos, ficamos impressionados com o domínio da língua francesa, por parte dos seus professores e alunos. O inglês também era importante, mas havia um certo equilíbrio na ministração das duas línguas estrangeiras modernas, previstas na lei brasileira de educação.
 
Veio o modismo, agravado pela avalanche da informática, com os seus termos próprios, e o francês, no sistema estadual de ensino, foi sendo deixado de lado, pois não era tão necessário assim como ferramenta de trabalho. Na direção da Secretaria de Estadual de Educação, manifestamos o nosso inconformismo e, com a colaboração do Conselho Estadual de Educação, conseguimos reviver o interesse pela língua francesa. Como se vê, tudo pode depender de uma visão política.
 
As escolas públicas passaram a ministrar novamente o francês, com materiais próprios e audiovisuais pioneiros. É possível lembrar os centros criados em escolas como o Instituto de Educação, o Colégio Inácio Azevedo do Amaral e o Liceu de Humanidades (Niterói), além do mencionado Liceu de Campos. Não se fez uma pesquisa oficial sobre esse movimento, mas existe uma informação que tem um grande valor histórico: a benemérita Aliança Francesa do Rio de Janeiro, que tinha 5 mil alunos, no início do processo, três anos depois havia triplicado o número de matrículas, demonstrando o grande potencial existente.
 
Nasceram concursos de redação, com prêmios de viagem à França, para professores e alunos, com centenas de inscrições, como a demonstrar que o sistema havia compreendido adequadamente o nosso propósito. Nada de impor de cima para baixo, mas dividir com quem de direito o esquema de valorização do importante idioma.
 
Hoje, sabe-se que a França tem, politicamente, todo o interesse de estar mais presente no Brasil. Os dois presidentes da República tornaram-se bons amigos – e isso facilita muito a troca cultural e a realização de importantes negócios, como a compra de submarinos nucleares francesas por parte da Marinha do Brasil, numa operação superior a 19 bilhões de reais. Nesse processo, é claro que haverá oportunidades de emprego para os que tenham domínio do francês, pois existe uma previsão de repartir a tecnologia aí embutida. Por que a língua francesa não está presente nas provas do Enem? – pergunta o educador Rivo Gianini? Não há resposta adequada para esse fato.