A economia brasileira está crescendo, é verdade, mas os desafios ainda são imensos. A divulgação de que temos 16,2 milhões de brasileiros vivendo na miséria absoluta (ganham menos de 70 reais por mês) foi um choque na consciência nacional. E nos remete para a discussão sobre o valor da educação.
Foi o que fez o IPEA, ao promover, em Brasília, com apoio da Unesco, o Seminário Internacional Educação e Desenvolvimento, com discussões muito ricas sobre se existe ou não um enlace entre esses dois vetores. Para o senador Cristovam Buarque, presente ao encontro, a resposta é afirmativa. Tanto que ele defende a existência de uma nova educação, em que nossos alunos não sejam mais submetidos a somente 115 dias letivos, efetivamente, e que na maioria das escolas haja mais do que as atuais 2h30 de aulas diárias.“É preciso que sejam 6 horas diárias, no mínimo”, disse ele. Logo corrige: “Se aumentarmos a carga horária, porém, não haverá professores disponíveis.”
O especialista Eduardo Chaves, da Unicamp e do Instituto Ayrton Senna, divergiu do senador e ex-ministro Cristovam Buarque: “Educação não é meio para o desenvolvimento, nem o instrumento para a transmissão da herança cultural. Isso a tornaria só instrumental. Ela é mais do que isso”. Com a experiência de toda uma vida dedicada ao magistério (Filosofia da Educação), perguntou de modo claro: “Por que educar?” e “Para que educar?” Concordou com a atual postura da Unesco de que a aprendizagem se faz ao longo da vida e acrescentou: “As atuais mudanças na aprendizagem devem ser maiores, sistêmicas, holísticas, profundas.” É preciso buscar uma nova forma de ver a educação, pois os alunos de hoje não são os mesmos de antigamente. Eles mudaram muito – e aí está a inclusão digital para nos dar razão. Recolhemos do escritor Peter Senge a expressão adequada: “Estamos diante da aprendizagem como processo de se tornar capaz.” É aprendendo que o ser humano se desenvolve. Isso exige ambientes de aprendizagem que apoiem e orientem os desejosos de aprender. A avaliação, hoje tão em voga, não se justifica como obstáculo a esse processo, mas sim como um valioso mecanismo de apoio.
Aqui se inclui também a busca da eficiência. Quando se sabe que 32% do tempo em sala de aula são gastos com chamadas e questões disciplinares, em prejuízo dos conteúdos curriculares, alguma coisa de muito errada acontece no sistema brasileiro. Se não houvesse tamanho desperdício, talvez se pudesse dar aos nossos alunos mais tempo para aprender uma segunda língua estrangeira e mais aulas de computação. Isso evitaria o temido apagão intelectual.
Todas essas considerações nos levam a uma preocupação permanente: as nossas crianças, nas escolas, não estão aprendendo a pensar. É claro que não são todas, mas isso ocorre com boa parte delas, sacrificando, de alguma forma, a existência de um promissor desenvolvimento científico e tecnológico.
Falta um elo importante na cadeia educativa. Sempre recordamos a visita feita à Universidade de Estocolmo, quando ouvimos do seu reitor que um dos três cursos superiores mais importantes da instituição era o de formação de pensadores. E nós? Que educação queremos?