Ninguém dá bola para o Tatu-Bola


Arnaldo Niskier

 
Se o tatu-bola tivesse um sindicato, como há tantos em nosso país, certamente
já existiria um movimento nas ruas protestando contra o descaso com que a mascote da Copa do Mundo está sendo tratada. A começar pelo nome escolhido pela CBF para batizar o simpático animalzinho: Fuleco. Uma apelido fuleiro, que não significa nada.
 
Ambientalistas, com toda razão, preocupados com a ameaça de extinção do tatu-bola, tinham fundadas esperanças de que a Fifa, cheia de dinheiro, repassasse 
recursos para viabilizar campanhas de salvação da espécie. Era o mínimo que se poderia esperar que acontecesse. Mas a realidade é outra. Escolhida a mascote, a entidade do sr. Blatter escondeu-se na casca e se finge de morta. E se depender da CBF aí mesmo é que não acontece coisa alguma. Não há sensibilidade dos seus dirigentes para esse tipo de problema.
 
 
A ONG Associação Caatinga divulgou que, em virtude da destruição do seu habitat, nos últimos dez anos, houve um declínio de 30% na população do simpático mamífero, que vive predominantemente em terras do cerrado e da caatinga. Isso nos levou a escrever o livro “O que rola no tatu-bola” (Edições Consultor, Rio, 2014), que teve a sorte de contar com excepcionais ilustrações do craque Cláudio Duarte. Como só dependia do autor da obra, critiquei impiedosamente os caçadores e contrabandistas de animais, que povoam o interior brasileiro. Sugeri até que se criasse a Tatulândia, com um metrô facilitado pela existência dos buracos em que vivem os bichinhos. Não existe o Tatuzão, que escava as obras do metrô da cidade do Rio, por que não estender a sua ação para salvar os seus irmãos? A nossa imaginação não tem limites.
 
Vejam vocês. A ideia do símbolo da Copa do Mundo nasceu no interior do Ceará, na cidade de Crateús, onde a modesta população local tinha esperanças de produzir o boneco do tatu-bola. Mas a realidade é outra. A China mais uma vez pulou na frente e a empresa Tongchuang Toys produziu 1 milhão de unidades de bichinhos 
de pelúcia, para distribuição universal. Para a Reserva Natural da Serra das Almas, na fronteira do Ceará com o Piauí (Chapada do Ibiapaba), que realiza pesquisas científicas e projetos de educação ambiental, nada foi destinado, embora tenha havido generosas promessas quando se iniciou a campanha, afinal vitoriosa.
 
Para não afirmar que a contribuição foi zero destaque-se a exceção: a 
empresa de pneus Continental, de capital alemão, destinou 100 mil reais à mencionada Associação. Claro que significa muito pouco, sobretudo diante dos projetos imaginados para a região em termos de economia verde e inclusiva. Com a expectativa de fracasso na operação tatu-bola, o governo federal promete ajuda à região, levando em conta que se torna cada vez mais rara a cobertura vegetal e, com isso, são mais de 300 animais ameaçados de extinção. Seria também uma forma de compensação ambiental pela construção da Adutora do Agreste. Mas o que vem é pouco e a Fifa vai ficar nos devendo mais essa.