Em 1999, já na Academia Brasileira de Letras, quando assumi a presidência, não me conformei quando soube que o túmulo do Machado de Assis estava fora do mausoléu. Procurei a razão e me revoltei quando soube a causa: a família portuguesa da sua esposa Carolina, quando ele morreu, não permitiu que fosse enterrado junto dela. A causa: ele era preto. Resolvi acabar com isso. Mandei reformar o mausoléu no cemitério São João Batista e construí um espaço especial que abrigasse o casal, com toda a honra.
A inauguração, no dia 21 de abril, foi festiva. A filha de Carlos Lyra, a cantora Kay, cantou a música “Quando ela fala”, baseada num poema de Machado de Assis e realizou um show de primeira qualidade:
Quando ela fala
Parece que a voz da brisa se cala
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala.
Meu coração dolorido
As suas mágoas exala
E volta ao gozo perdido
Quando ela fala.
Pudesse eu eternamente
Ao lado dela escutá-la
Ouvir sua alma inocente
Quando ela fala.
Minh’alma já semi morta
Conseguiu ao céu alcançá-la
Porque o céu abre uma porta
Quando ela fala
Quando ela fala
Quando ela fala.
Na presença de muitos acadêmicos, foi uma das tardes mais bonitas vividas pela ABL, quando se pôs fim a uma grande injustiça e Machado pôde finalmente descansar para sempre ao lado da esposa querida.