Sucupira, o grande filósofo


Arnaldo Niskier

Talvez tenha sido um dos homens mais cultos do Brasil. Nascido em 1920, em Porto Calvo, Alagoas, Newton Lins Buarque Sucupira formou-se Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Recife (1942) e Bacharel em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (1947). Em 1961, indicado por Anísio Teixeira, integrou o primeiro grupo de intelectuais a compor o Conselho Federal de Educação (CFE), atualmente Conselho Nacional de Educação (CNE). Atuou até 1990 como professor da Fundação Getúlio Vargas e da UFRJ. Morreu aos 86 anos, no Rio, em 2007.
 
Sucupira presidiu o grupo de trabalho que elaborou a Lei da Reforma Universitária no Brasil, em 1968. Após 16 anos atuando no Conselho (três mandatos), ficou conhecido como patrono da regulamentação da pós-graduação brasileira. 
 
Com sólidos conhecimentos filosóficos e pedagógicos, o professor prestou relevantes serviços ao país, sobretudo com os seus admiráveis pareceres no histórico e então prestigiado Conselho Federal de Educação. Rivalizava com os professores Valnir Chagas, Edília Garcia e Terezinha Saraiva em grandes manifestações, nos anos 60 e 70.
 
Um parecer do Conselho Federal de Educação organizou o sistema de pós-graduação, dividindo-o em duas categorias – stricto sensu, que visa prioritariamente à formação do pesquisador, e lato sensu, dirigido à especialização profissional – e estabelecendo as categorias de mestrado e de doutorado, sem que a primeira seja obrigatoriamente um requisito para a segunda. O marco legal (Parecer 977/65), que propiciou o crescimento ordenado da pós-graduação brasileira, ficou conhecido como Parecer Sucupira, numa justa homenagem ao seu relator.  
 
Era uma felicidade com ele conviver. Aprendia-se sempre, como ultimamente ocorria nas reuniões da Academia Brasileira de Educação. Mas, antes, tivemos o prazer de conhecê-lo nas lides do Ministério da Educação, quando dirigia o Departamento de Relações Internacionais. Nessa condição, esteve na Inglaterra, no início da década de 70, para saber pormenores da então criada Open University (Universidade Aberta), a convite do ministro Jarbas Passarinho.
 
Quando voltou de Londres, no mesmo dia, honrou-nos com um telefonema, afirmando que o ministro desejava criar um grupo de trabalho (o primeiro da história da educação à distância em nosso país) – e que gostaria de contar com a nossa colaboração, o que de fato aconteceu. Foi o princípio da Universidade Aberta do Brasil.
 
Em outra ocasião, a convite do MEC, pesquisamos na UERJ sobre o ensino por correspondência. O professor Sucupira foi o nosso grande guia, com a firmeza das suas convicções, bem próprias, como afirmou Paulo Elpídio Menezes Neto, do sobrenome que significa “árvore nordestina de galhos fortes, rijos e ásperos.”