Índios devem aprender Português


Arnaldo Niskier

Em recente palestra na Expo CIEE 2012, realizada no Centro de Convenções Sul América, no Rio, foi possível anotar uma série de questões levantadas pela plateia, constituída predominantemente de jovens estagiários e aprendizes.  É um retrato quase fiel das dúvidas relativas à língua portuguesa.
 
Vamos recordar algumas delas, com as respostas dadas pelos  especialistas.  Houve até muita  graça nos questionamentos, como a seguinte pergunta: “Quando se escrevia elefante com ph o bicho era maior?”  Nem o animal africano  era maior, nem as  farmácias (também com ph) eram diferentes das que existem hoje.
 
Outra questão: “Todos os livros didáticos utilizados agora serão substituídos por outros em respeito aos postulados do Acordo Ortográfico?”  Na verdade, as editoras brasileiras já fizeram essa adaptação, que será obrigatória a partir de 1º de janeiro de 2013.  Em Portugal, no entanto, há uma grande discussão a respeito do assunto, com resistências ao emprego do Acordo.
 
Uma  estagiária deixou nítido o seu interesse profissional: “Os concursos oficiais estão adotando o Acordo Ortográfico?”  A resposta é afirmativa.  Quem não estiver com as novas regras em dia, vai sofrer  na hora de fazer a prova.  Sobre isso, chamei a atenção da plateia para o uso indiscriminado do internetês por parte dos nosso jovens.  Isso acostuma a uma simplificação que, na hora da escrita, é condenada pelos professores.  Todo cuidado é pouco.
 
Uma  pergunta referia-se à importância do Acordo Ortográfico para a economia do país.  Indiretamente, sim.  O MEC está distribuindo 100 milhões de livros didáticos, comprados a editoras privadas, para oferta gratuita  a escolas de alunos carentes.  Poderá se tornar uma operação economicamente ainda mais rentável se as editoras brasileiras ampliarem a sua ação para todos os países da comunidade lusófona – e aí alcançarão o imenso mercado africano.  É exatamente esse o ponto em que há críticas em Portugal, temendo o avanço.  Mas também não se pode pensar no contrário, como, aliás, está acontecendo hoje em dia?  A Editora Leya, por exemplo, cuja matriz é portuguesa, ganha cada vez mais espaço entre nós.
 
Outra questão foi bem interessante: “Com a inclusão do “y” e do “w” no alfabeto, sob o critério da obstrução do ar, poderemos classificá-los como vogais ou consoantes?”  É claro que são consoantes.
 
 Algumas papeletas recebidas não continham perguntas de conteúdo, mas queriam saber os nomes de dicionários e vocabulários aconselhados aos usuários.  O único oficial é o Vocabulário Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa (VOLP), produzido pela Academia Brasileira de Letras, e que se  encontra na quinta edição, totalmente atualizado.
 
Um estagiário demonstrou preocupação inusitada: “Deve-se ensinar português aos silvícolas?  Isso não é  uma violência?”  O Brasil já teve cinco  milhões de índios, hoje eles são  apenas 600 mil.  Não vemos constrangimento no fato de eles conservarem os seus muitos dialetos e aprenderem a língua comum, que é o português.