Ética e educação
Arnaldo Niskier
Ética e moral são palavras desgastadas. Mesmo assim, embutem polêmicas relevantes. O que leva à falta delas? Em período de eleição, debater o seu impacto sobre a sociedade ganhou ainda mais importância.
Passamos por tempos sombrios, em que a ética é colocada em xeque sistematicamente em situações que se tornaram frequentes no dia a dia: furar fila, subornar o policial, falsificar carteirinha de estudante, sonegar impostos, estacionar em local proibido, ultrapassar o sinal vermelho. São incontáveis as "pequenas infrações” cotidianas.
Há uma crise ética no Brasil. Não apenas porque somos bombardeados por situações e atitudes revoltantes todos os dias, mas também porque o próprio conceito de "ética" é usado com vários pesos e medidas diferentes. Sem ter clareza sobre isso, é fácil se perder no debate, não saber o que pensar - ou pior - achar que não temos nada a ver com o assunto.
Ética não é uma simples lista de condutas a serem seguidas, ou uma tabela fechada que diz o que é aceitável e o que não é. Debater a ética é um exercício coletivo de pensar e refletir sobre as atitudes humanas e suas consequências.
Cada atitude individual tem uma influência coletiva. Somos exemplos uns para os outros e é preciso assumir essa responsabilidade. Por isso, seja ao ler notícias bárbaras no jornal ou ao vivenciar as chamadas microcorrupções do dia a dia, não podemos perder a capacidade de nos indignar, deixar que isso tudo passe como normal ou comum. Indignar-se não será possível, porém, se não abrirmos os olhos para identificar quais questões éticas estão envolvidas em cada caso. Sem dominá-las, continuaremos parados no mesmo lugar. O desconhecimento é parte da crise.
Sem pretensões conclusivas, procuramos destrinchar conceitualmente os mecanismos de ação e as consequências da (falta de) moral e ética que assola o nosso país.